terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O PAPAI NOEL BAIANO



Natal chegou e, como diria Toni Garrido, "todo mundo sempre espera alguma coisa de uma noite de natal". Tá, eu sei, não é bem isso o que ele diz, mas fica quieto que a história é minha.

Papai Noel - O papai Noel que conhecemos é aquele ser criado pela mídia. Dizem que foi uma propaganda da Coca-Cola que lançou o bom velhinho tal qual conhecemos - Gordinho gostoso que não é friboi mas que não sai de moda, de roupas vermelhas, botinhas e cinto pretos, gorrinho e um saco nas costas (todo velho fica de sacão, já diz a lenda). Uns dizem que ele vive no Polo Norte e outros confirmam que sua morada é mesmo na Lapônia. Bom, isso não importa porque o que eu realmente queria era que existisse um Papai Noel mais regional, mais nosso, mais nossa identidade, nossa cara.

E se o nosso Papai Noel fosse uma figura com cara da Bahia?

Eu, num esforço próprio de amor a baianidade, me entreguei aos meus pensamentos e resolvi dar um padrão mais timbalesco, mais olodumresco, mais acarajéresco com pimentesco, pra o bom velhinho. Assim apresento a vocês o que imagino que deveria ser o Papai Noel Baiano.

Pra começar mudei logo o nome. Nada de Papai Noel. Papai é coisa do sul. O nosso se chamaria BABÁ NONÓ. Uma coisa mais africana, mais cara de Bahia. Os mais chegados poderiam chamá-lo de PAINHO. Imagine as crianças fazendo cartinhas...

"Querido Babá Nonó, fui um bom erêzinho nesse ano e tirei boas notas na escola e..."

Veja como já fica muuuuiiitoooo mais baiano. Outra coisa: Nosso Babá Nonó não vem de polo norte nem de Lapônia, zorra nenhuma. Ele Vem de Feira de Santana, mais exatamente da Feiraguai, que é onde fica a fábrica de brinquedos do nosso Bom Velhinho.


Depois de mudar o nome temos que dar um jeito na roupa. Esse negócio de roupa de frio nesse calor da porra que faz aqui na Bahia não dá. Papa... Opa, quer dizer... Babá Nonó que se preza usa abadá. Ele viria com um abadá nas cores do Olodum. Uma coisa mais "in". Um abadá customizado, onde ele cortaria as mangas pra fazer uma super camiseta fashion. Nada de botinhas pretas até a canela. Ele viria de chinelo de couro comprado no Taboão, aquela que não tem um cheirinho muito agradável. Até porque Babá Nonó é negão e faz parte do movimento Chinelista "quinem" Saulo, que é, como todos sabem, o maior negão da Bahia. Nem venha com história de que Babá Nonó é veado. Baiano não tem gênero. Baiano é eclético. É trans, plus, power, mega. Pergunte a Caê. Como assim, você não sabe quem é Caê!? Já vi que você não é baiano. Mas só pra esclarecer, Caê é Caetano em baianês. Caetano é um nome muito grande e dá preguiiiiiiça de falar.

O próximo passo é o tal do trenó. Tem neve na Bahia? Tem olimpíada de inverno nessa porra? NÃO. Então pra que essa "miséra" de trenó? Nosso Babá Nonó viria de mini trio puxado por dançarinos de pagode (muito melhores e animados do que renas). Você não iria ouvir sons de sinos e sim tambores e timbales. Você quer coisa mais baiana?


Gorro vermelho com pompom??? Esqueça essa porra. Isso não é necessário no papa... quer dizer, No Babá Nonó baiano. Ele vai passar no pelô e mandar largar uns dreads no cabeção. Óh, sacaninha! muito, mas muito mais tchan.

Por fim o saco. Es-que-ça!!! Babá Nonó de verdade traz os presentes é em carrinho de cafezinho. Isso mesmo que você está lendo - Carrinho de cafezinho cheio de luzes de natal piscando por tudo que é lado e com o som de Pablo, na sofrência, a toda altura. Puuuurraaaa!!! Painho botou pra lenhar!

Agora, man, na moral, você tem lareira na sua casa? Você conhece alguém que tenha? Então esqueça essas histórias malucas de velhinho, cheio de artrite, descendo por chaminé, sem queimar o fiofó, pra deixar presentinho na sua meia. Babá Nonó joga seu pedido é pela janela mesmo, se ela estiver aberta. Se não estiver... perdeu, maluco. E pode guardar sua meia cheia de chulé. Porque não cabe caixa de skol dentro de pezinho de meia. Pendure o jereré, a calçola de sua mãe, que vai caber muito mais presente dentro dela. Vá por mim.


Agora sim... Temos um verdadeiro e genuíno Bom Velhinho com tempero baiano.

Que Babá Nonó te dê o que Mariazinha ganhou atrás da horta.
(se você não disse um "OXE!" ou um "LÁ ELE!", depois de ler a ultima frase, você não é baiano mesmo).

Feliz Natal a todos!!!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Meu filho, minha vergonha.


Hoje eu vou falar de um assunto particular com vocês. Espero contar com a ajuda de todos nessa minha luta, nessa dificuldade que estou tendo. É difícil para mim revelar o que vou revelar aqui e agora, mas... é, acima de tudo, necessário.

Meu filho tem me envergonhado diante dos meus vizinhos, familiares e de toda sociedade. Já não sei mais o que fazer pra que ele pare o que vem fazendo comigo. Tem sido difícil demais para mim. Eu, um pai dedicado, protetor, provedor, receber em troca tanta humilhação. Por que, meu Deus?!

Quero contar pra vocês a história do começo pra que vocês entendam e me ajudem. Por favor, fiquem do meu lado nessa batalha.

Junho de 2005, 16 horas e 35 minutos (até hoje lembro data e hora. Vejam o tamanho do meu trauma), hipermercado "Good Preço". Estou com meu filho fazendo compras pra casa, quando VEJO UMA CRIANÇA DANDO BIRRA COM A MÃE. MAIOR GRITARIA. UM INFERNO DENTRO DO SUPERMERCADO. COISA FEIA DE DOER. Nunca consegui entender como existiam pais que deixavam que seus filhos agissem daquela forma. Meu filho nunca fez aquilo, nunca agiu daquela forma deseducada. Não é que ele não desse birra, mas bastava um sonoro: PARE AGORA! Pra ele ficar quietinho, quietinho. Pais que deixam seus filhos fazerem o querem. Deus é mais. Como pode??? Continuei andando com meu carrinho pelos corredores do supermercado. Sabe aquele carrinho de supermercado que tem o formato de um automóvel com volante e tudo pra criança ficar sentadinha em baixo? Eu estava empurrando um daquele e meu filho lá em baixo sentado sem dar trabalho nenhum. Meu filho sempre foi muito bem educado. No corredor seguinte encontrei com a mesma senhora e sua filha, que agora já não estava mais chorando porque a mãe deu o biscoito pelo qual ela chorava e fazia birra.

Pensei comigo mesmo que deveria dar um conselho aquela senhora de não fazer as vontades da menina quando ela estivesse fazendo birra, porque ela alimentaria aquele processo de deseducação.

Quem disse que eu, você, ou qualquer um na face da terra tem o direito de se meter na vida dos outros? Por que na minha cabeça eu acreditei que deveria dar conselhos àquela senhora? Enfim, eu e minha mania de falar pra porra. De não conseguir ficar quieto. De me meter na vida dos outros. Parei, chamei ela e comecei
minha "aula de psicopedagogia":

- Olá, senhora, boa tarde.

- Boa tarde. - ela respondeu meio assustada.

- Eu vi o que sua filha estava fazendo minutos atrás. O Choro, a birra. Vi a cara de desespero da senhora e acho que a senhora não deveria fazer as vontades de sua filha desse jeito. Por qu...

- Quem é o senhor pra se meter na minha vida? Quem é o senhor pra me dizer o que devo ou não devo fazer?

- Calma, senhora. Eu só quero ajudar. Pois eu também tenho um filho, aparentemente, na mesma idade da filha da senhora. E meu filho nunca agiu desse jeito. Quando ele começa com birra eu falo com firmeza e mando ele ficar calado e ele obedece na hora porque eu falo com autoridade. Saio com ele pra todos os lugares e ele sempre ficou quieto. Nunca precisei brigar com ele por ele estar mexendo em algo ou gritando ou qualquer coisa parecida. Então pensei que poderi... - Eu já estava me empolgando no discurso, quando ouço um chororô, um berreiro, uma zoada danada. Então não perdi tempo e disse pra mulher:

 - Tá vendo aí? A senhora foi fazer vontade e agora sua filha já está dando calundú por que certamente quer outra coisa. Tinha que dar era umas palmadas pra ela parar com essa mania de birra.

Enquanto eu falava, olhei e vi que a garotinha estava sentada dentro do carrinho calada já comendo o biscoito dela dentro do supermercado mesmo. Foi quando olhei pra baixo e vi a grande decepção da minha vida: Meu filho, chorando agarrado à minha calça, me pedindo um brinquedo que ele viu.

Fui curto e grosso:

- PARE COM ISSO JÁ! QUE FALTA DE EDUCAÇÃO É ESSA? - Falei sério. Ele parou de chorar na hora.

Parou por dois segundos.

Quando eu olhei, ele estava se jogando no chão, rolando de um lado pra outro e gritando feito um louco:

-EU QUEROOOOOOOOOOOOOO!!! EU QUEROOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! AAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

A velha não perdeu tempo também.

- ÔÔÔÔU! É assim que seu filho é o cheio de educação? Ainda vem com impáfia pra falar da minha filha. Macaco não olha pra o rabo mesmo, não é, SENHOR E-DU-CA-ÇÃO?  - Devo dizer que essa última parte da frase o: "senhor e-du-ca-ção", ela falou cara a cara comigo, me cuspindo toda, balançando o pescoço de um lado pra o outro e com as mãos na cintura igual aquelas negras norte americanas nos filmes. Saiu e ainda ficou me olhando torto. E a gurizinha ainda jogou um biscoito recheado que bateu bem na cara do meu filho que, se já estava chorando, agora berrava.

- AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH, AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!! EEEEEEUUUUUUUUU QUÉÉÉÉÉÉÉÉÉROOOOOOOOOOOOOO!!!!

Aí foi que eu vi, que não é tão simples fazer uma criança birrenta parar de chorar. É fácil a solução quando o filho é dos outros, mas quando é com os nossos...

- Filho? Pare de chorar que papai te leva pra o parque outro dia. Certo?

- NÃO QUERO IRRR PRA O PARQUEEEEEEE!!!

Amigos, que sofrimento o meu. O meu e de quem estava ali ouvindo aquele barulho. Não consegui fazer o moleque parar. ele chorou por uns dez minutos eu acho. Rolava no chão de um lado pra o outro, depois ficava parado como se estivesse morto, duro, estrebuchado no chão. Depois batias as pernas. E eu lá com cara de quem não sabia o que fazer. As pessoas olhavam pra mim como se dissessem: "Que pai mais pamonha!" Então tomei uma decisão extrema: Disse que se ele não parasse ia tomar umas chineladas ali mesmo. Mas eu estava de tênis e não de chinelo. Mesmo assim tirei o tênis pra dar umas "tenizadas" no bumbum daquele fedelho, mas quando tirei o tênis, além do fedor de chulé que nem eu estava aguentando, ainda tive que encarar os olhares de reprovação das mesmas pessoas que, se antes me olhavam como se eu fosse um inoperante, agora me olhavam como se eu fosse um carrasco, um déspota. Só parou com o berreiro depois que eu peguei o maldito do boneco e deixei na mão dele. Eu quis dar uma de esperto, pois minha tática era deixar o boneco na mão dele e quando chegasse no caixa eu daria um jeito de tomar e ele esqueceria. Você acha que ele esqueceu? No caixa, quando eu tentei pegar o boneco, a ladainha começou toda de novo. Tive que entregar de volta pra ele pra que a menina do caixa pudesse trabalhar em paz. No caixa ao lado, pra meu azar, estava a mulher que eu quis dar lição de moral quando a filha estava chorando. Eu estava morrendo de vergonha e ela me olhando e fazendo comentários com as pessoas que estavam na fila. As pessoas olhavam pra mim e meu filho e sacudiam a cabeça pra um lado e pra outro desaprovando totalmente aquela situação. E não teve jeito. Levei o boneco pra casa.

Vergonha, vergonha, vergonha.

Aí foi o começo. Quer mais? Vou contar.

Outro dia estava em casa, quando me ligou um amigo chato, daqueles que só ligam na hora errada. Daqueles que só ligam quando você está assistindo um programa imperdível ou o último capítulo da novela. Daqueles que ligam quando você está com preguiça de levantar pra atender o telefone ou quando você está nas preliminares do sexo. daqueles que ligam quando você está querendo almoçar, ou seja, aquela pessoa chataaaaaa. Quando ele ligou eu estava deitado e meu filho foi quem atendeu.

- Alô!

- Alô, Cabeça, seu pai "taí"?

 - Meu pai? "Peraí". PAAAAIIIIII, TELEFONE! - ele já foi gritando. Então fiz um sinal com a mão chamando ele e pedindo que ele fizesse silêncio. Quando ele veio eu disse:

 - Filho, diga que papai saiu. - falei quase sussurrando.

- Saiu? Como, se o senhor está aqui?

- Tá. Então diga que eu estou dormindo. - Ele voltou correndo pra o telefone e...

- "Ói", meu pai mandou dizer que saiu. Ô, "peraí". MEU PAI, É PRA DIZER QUE O SENHOR SAIU OU QUE O SENHOR TÁ DORMINDO? - Ele gritou e nem se preocupou em pelo menos tapar o microfone do aparelho telefônico.

Perdi o amigo pra sempre.

Pelo menos ele nunca mais ligou. Aquele empata fo...

Sim. Não vamos começar com aquele papo do politicamente correto, que eu estou ensinando o menino a mentir.  Vocês já viram que esse é o meu problema. Meu filho desvirtuou. Não consigo fazer com que ele me tire de enrascadas e ele ainda me bota em outras. Eu sou muito doido e meu filho é careta.

Quer mais uma? Então toma.

Aniversário da minha sogra. Acabamos de cantar o parabéns pra você, a "véia" assoprou as velinhas, e aí eu fui abraçar a jarara... er, quer dizer, a abençoada. Quando desejei a ela, com toda a sinceridade, que Deus lhe desse muitos anos de vida, meu filho ouve e solta essa no meio da festa:

- Meu pai, o senhor não disse ontem que seria bom se minha vó morresse logo pra parar de ficar se metendo na vida do senhor e de minha mãe?

O silêncio foi total. Os familiares todos olhavam pra mim. Foi o meu sorriso mais amarelo em todos os meus mais de trinta anos de vida. Ainda bem que meu cunhado é o maior sacana da história e soltou uma piada qualquer lá que eu nem me lembro, mas foi o suficiente pra distrair a galera e eu me sair de fininho doido pra matar meu QUERIDO filho.

Nem meus telefonemas minha sogra atende mais. Ela está sempre dormindo ou saindo. (Eu já conheço essa tática. Ela não quer falar comigo)

Pensa que acabou?
"Cabô" não, miserinhas. Ainda tem mais.

Véspera da semana de São João do ano passado. Reunião de moradores com o síndico do prédio onde moro. Maior bafafá por causa de barulhos dos vizinhos. Era um reclamando do arrastar de móveis no apartamento da vizinha de cima, o salto da vizinha do lado, o cachorro. Então lá fui eu me meter nos problemas alheios. Comecei:

- Acho um absurdo mesmo esse negócio de ficar fazendo barulho pra incomodar os vizinhos. Eu mesmo, todos vocês sabem, fico aqui com minha mulher e meu filho, e ninguém ouve um piu que saia ali do nosso apartamento (menti um pouco, é verdade, pois eu mesmo faço um barulho danado com minha bateria). Nem bem terminei de falar, ouviu-se uma explosão dentro do elevador. Desespero geral. O que foi que aconteceu? Meu Deus, será que o elevador despencou? Quando o elevador abre, sai primeiro aquele fumaceiro, depois sairam meus cinco gatos (Elvis, Elis, Raul, Pit e Belinha) cada um correndo pra um lado, minha cadela cega, Bel e meu filho sai por último tossindo no meio do maior fumaceiro (tipo Bob Marley)

- O que foi que aconteceu, Cabeça? - pergunto assustado.

- Eu comprei umas bombas na porta da escola e ia descer pra brincar. Só que a luz do elevador apagou e eu acendi uma bomba pra clarear. Soltei no chão e ela explodiu.

Bomba comprada na porta da escola? MEU DEUS!!!
Acender bomba pra clarear elevador? Ô, JUMENTO!
Brincar com bomba? Meu filho é seguidor de Bin Laden?

Vergonha. Os vizinhos, atônitos, quase me expulsam do prédio. Disseram que eu deveria dar educação ao meu filho, que aquilo era inadmissível, etc, etc, etc.

Bom amigos, preciso ou não preciso de ajuda? Sou ou não sou um sofredor?

Esse é o meu drama. Meu filho me envergonha o tempo todo. Não me deixa mentir, nem trapacear no jogo de cartas ou dominó, nem inventar história pra enganar os outros, nem falar mal de minha sogra, nem contar vantagem, nem tirar onda de gostosão, nem paquerar quando a mãe dele não está perto, nem beber água no gargalo da garrafa na geladeira, nem cuspir na cabeça de quem passa lá embaixo da janela do prédio, nem passar com o carro numa poça pra molhar as pessoas na rua, enfim... meu filho não me deixa fazer aquilo que qualquer pai gosta de fazer.

Me ajudem! Me ajudem!

segunda-feira, 21 de março de 2011

PULA, CAI NO CHÃO! Carnaval 2011


Pronto. Carnaval acabou e a cidade já voltou a sua normalidade. Congestionamentos, trabalho, chefe, volta as aulas, fila dupla, tripla, quádrupla, na porta das escolas, enfim, aquelas coisas normais de nossa querida cidade e de nossa própria vida.

O carnaval acabou, mas as histórias do carnaval ficaram.

Então, levantem a mãozinha pra o ar e... Segurem!

Todo carnaval é aquela mesma coisa que todos sabem: Pula, sai do chão, levanta a mãozinha, bata na palma, vamos tremer a avenida, etc, etc, etc. Mas o mais gostoso do carnaval de Salvador é a "pegação". E a pegação é geral. Ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. "Eu quero mais é beijar na boca" já diz a letra da canção.  E é assim nesse espírito carnavalesco de azaração total que muitos se dão mal. (até rimei). Vejam por exemplo a história de minha amiga, Nélia. Ela, assim como eu, sempre se mete em furadas. Não é à toa que somos amigos. Vocês lembram da história do caranguejo? Ela, era quem estava comigo parecendo um cachorro rosnando com uma perna cabeluda de caranguejo na boca, lembram? Vejam agora como ela tem realmente o dom de se meter em barcas furadas.

Sábado de carnaval, Barra - Ondina. Galera bonita, sol, calor, cerveja, axé, mulheres maravilhosas, homens fortes, altos, bonitos, sarados, e foi assim que Nélia se deu mal.

Um ano inteiro pagando um abadá. Quase mil reais pra sair em um bloco de elite. Nélia é pobre, mas é metida. E metida demais. Quase passa fome, mas comprou o abadá só pra realizar o sonho de sair no bloco com o símbolo da patinha verde e que tem um ex cantor barbudo que agora ficou com cara de cágado. E a ousada da Nélia comprou. No dia de buscar o abadá me ligou na maior alegria me pedindo pra ir com ela, pois é muito perigoso sair por aí com um abadá na mão. Ainda mais um tão caro e tão visado. Reformou, reformou não. Customizou (reformou é coisa de quem ainda usa mortalha), ela mesma, o abadá em casa. A camiseta virou um topzinho. E Nélia, vestida no abadá, ficou até gostosa. Ela estava se achando. Andou aqui na rua pra cima e pra baixo só pra todo mundo ver que ela estava com o abadá do "gambá-leão". Se achou única. Até chegar na concentração do bloco e ver que tinha umas duas mil e quinhentas mulheres iguaizinhas a ela. Pensou: "Tem problema não eu ainda sou única no bloco". E era mesmo. Acho que ela era a única negra, baiana e da periferia dentro das cordas do bloco. Chamou atenção assim que chegou. No meio de tantas loiras de chapinha, luzes e o escambau no cabelo ela se sobressaiu com seu cabelo afro cheio de tranças. Pulou, gritou, quase entrou em transe de tanta emoção quando o "tartaruga ninja" cantou "Tá lisinho, tá lisinho". Lisinho ficou foi o bolso de minha amiga. COITADA!

Mas o bom de ser um pobre ousado é que você pode se dar bem. E Nélia, como boa pobre ousada, começou se dando muito bem nessa história. Pode até não parecer, mas começou se dando bem.

No meio do bloco haviam vários caras lindos, sarados, bombados, loiros, morenos, ruivos (até ruivos eram bonitos nesse bloco). Cada peitoral de deus grego que só vendo (vou até parar por aqui pra que ninguém duvide da minha masculinidade). E Nélia lá no meio se achando. Todo mundo beijando todo mundo, mas ninguém chegava na coitada da Nélia. Ela chegou a fazer biquinho na frente de um cara que quando viu que a garota destoava do restante do bloco achou que ela estava recebendo um santo em plena avenida. O cara gritou um "saravá, meu pai!" e se embrenhou no meio da galera. E Nélia ali quase dando cãibra nos beiços. Já estava quase desistindo de achar um gatinho quando a sorte SORRIU pra minha amiga. E o SORRISO da sorte era branco e perfeito.

Gente, nem minha amiga acreditava que aquele cara loiro, lindo, forte, cabelos de príncipe, nariz afilado e SORRISO perfeito (o cara era o próprio He-man), estava olhando pra ela daquele jeito tão sensual. Ela se beliscou duas vezes. Uma pra ver se estava acordada outra pra ver se não estava bêbada. Ela estava acordada e ainda não estava tão bêbada. O cara estava realmente olhando pra ela. E agora estava se aproximando olhando nos olhos dela. Por um momento ela não ouvia mais o som do trio elétrico, ainda que os decibéis estivessem quase duas vezes acima do que o ouvido humano pudesse suportar. Ela ouvia só o tum, tum, tum dos tambores do coração. (Pô! Fui profundo agora. Me arrepiei). Ainda que estivesse o maior empurra, empurra dentro das cordas do bloco, ela só enxergava aquele ser mágico e maravilhoso vindo em sua direção.

O cara nem disse oi. Também se dissesse não daria pra ouvir. Também ela não queria saber de papo ela queria era "pegada" e o cara tinha "pegada". Chegou chegando. Segurou ela pela cintura, puxou contra seu corpo másculo, seu membro ereto e pulsante,  seus músculos apertavam-na com a força viril de um macho no cio, (está parecendo aqueles romances porno/erótico que as mulheres adoravam ler no passado) sua mão grande passeava pelo corpo dela até parar sobre suas nádegas que, na onda das mulheres frutas que existem por aí, parecem duas bandas de jaca. Podres. E o garanhão encostou seus lábios nos lábios ávidos de minha amiga Nélia. E o beijo foi ardente, voluptuoso, de tirar o fôlego, cinematográfico. Quase cinco minutos se beijando sem parar. Quando o beijo acabou as pessoas ao redor aplaudiam. As câmeras de tv filmavam pra todo o Brasil ver aquela cena tão quente, tórrida, a verdadeira demonstração do calor do verão baiano. Até o cantor cara de cágado fez uma menção lá de cima do trio. PERFEITO. A única coisa mais perfeita do que toda aquela cena, era o SORRISO daquele cara.

O ruim de ser um pobre ousado é que pobre é sempre azarado (senão não seria pobre, né?) então quando tudo parece perfeito sempre acontece alguma coisa pra desandar o negócio.  E, quando tudo está desandado, sempre pode piorar.

Após o beijo o camarada a convidou para irem juntos para o carro de apoio. Ele queria ficar mais a vontade com ela e conversar um pouco. O cara era sempre solícito e SORRIDENTE. E o SORRISO dele era tudo de bom (segundo Nélia). Quando chegaram no carro ele fez questão que ela subisse primeiro. Um lord. No meio daquela confusão toda um príncipe encantado estava ali pronto pra ser o gentlemam perfeito pra minha amiga. Ela subiu e virou na escada pra ver aquela obra divina em forma de folião subir no carro de apoio. Ô, desgraça, meu Deus! O cara errou o pé no degrau do carro de apoio, saiu raspando a canela na escada. Sabe quando você toma aquele arranhão que primeiro a pele fica branca, depois é que o sangue começa a aparecer em forma de pontinhos? O cara que já era branco então... A raspada de canela foi o mínimo, o cara caiu de joelhos, meteu a caixa dos peitos na quina da escada e isso ainda não foi o pior. O pior foi que com a porrada na caixa dos peitos o cara cuspiu a uns dois metros de distância o SORRISO PERFEITO que tanto encantou minha amiga. Sim o loiro e lindo e forte, bombado, cabelos "numseioquê", tinha uma dentadura na boca que ele cuspiu com o impcato da queda. A perereca caiu no meio da galera, no chão, no chão da avenida, chão cheio de cerveja, umas poças de lama, misturado com aquele perfume que a rapaziada da limpurb passa assim que acaba o dia de festa. E gente pisava, chutava e o cara levantou meio grogue correndo atrás da perereca que pulava pra um lado e pra outro no ritmo da levada. Era chutada pra lá e pra cá, e ele de quatro no meio do bloco, sem ar por causa da porrada que levou nos peitos, a canela ardendo pra porra, e sem um dente na boca.

Ele achou a dentadura. Tudo bem, faltavam uns três dentes, mas ele achou. Pior: ele só deu uma lavadinha com cerveja mesmo, Enxugou no abadá e meteu na boca. Encheu a boca com mais três goles de cerveja, gargarejou, buchechou, cuspiu, e SORRIU. Nélia, a essa altura, já estava quase colocando os bofes pra fora de tanto vomitar. Cada vez que ela lembrava do beijo que o cara deu, a língua dele passeando por dentro de sua boca, a ânsia de vômito voltava. O camarada era duro na queda, ele ainda voltou querendo ficar com ela. Disse que nunca beijou alguém que tivesse um beijo tão gostoso como o dela. Falou em casamento e tudo mais. E como o som era muito alto, pra ser ouvido era necessário falar de pertinho. Imaginem o bafo do cara... Uma mistura de cerveja com chulé com lama com alfazema dos filhos de Gandhi com detergente da limpurb com odor de banheiro químico e baba. Ele falava e minha amiga vomitava.

Coitada da Nélia. Um ano sonhando esse sonho pra virar um pesadelo desse jeito. Ela me confessou que agora só sai de pipoca. Se sair. Mas eu conheço a Nélia, ela é ousada. Ano que vem ela sai de camarote. Quer apostar?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Buzú e a buzanfa


Olá amigos e amigas. Sumi por alguns dias devido ao trabalho. Muita correria e muitas horas de sono perdidas. Mas estou de volta, pelo menos até o carnaval. Espero que vocês curtam mais essa história louca de coisas que só acontecem comigo e com quem tem a mesma "sorte" que eu.

Divirtam-se!

O carro quebrou e ficou na oficina por três dias. Tive que pegar um ônibus. Ôôôôôôôô sofrimento, véi! MEU DEUS, POR QUE ME DESAMPARASTE!!!

Pode parecer incrível como um motorista de taxi, por mais que conheça a cidade toda, quando se trata de pegar um ônibus fica totalmente perdido.


Pego o celular e ligo pra Lindinha:

- Lindinha, que ônibus eu pego daqui do Rio Vermelho pra poder chegar em casa? - perguntei com aquela vozinha de criança dengosa perdida no meio do nada, prestes a abrir o berreiro.

- Ô, filho! Se não sabe que ônibus pegar vai pra Lapa que lá tem buzú pra tudo quanto é bairro, né?

Tomei um chépo, enfiei o rabo entre as pernas e fui pra o ponto.

Demorou uns quarenta e cinco minutos pra passar um Lapa, vazio. Entrei e nem sabia o valor da passagem. Encostei no cobrador e perguntei meio envergonhado e baixinho, pois não queria parecer um arrogante, esnobe, que vive no mundo maravilhoso dos taxistas e nem sabe o valor de uma passagem de ônibus.

- Quanto que é a passagem, amigo? - perguntei bem baixinho. As pessoas me veriam como um ET se me ouvissem perguntando aquilo.

-  É DOIS REAIS E CINQUENTA. AGORA, PASSE LOGO QUE NÃO PODE FICAR AÍ NO CURRAL ATRAPALHANDO O CAMINHO NÃO!

Que ignorância, viu! Pedaço de jumento olhando pra parede, era aquele cobrador.

Passei, me sentei e a viagem seguiu.

Cheguei no infer... ééé, digo... Lapa, e tive que procurar o ponto exato pra o bairro onde moro. Demorei um pouco, mas encontrei. Quando cheguei tinha umas poucas pessoas esperando, o que me deixou animado em saber que pegaria um buzú vazio. Mas não demorou nem dez minutos e a fila foi aumentando, aumenTANDO, AUMENTANDO, AUMENTANDO, mas, pra minha sorte, eu era o décimo quarto ou décimo quinto da fila, ia conseguir um lugarzinho pra ir sentado fácil, fácil.


Meia hora de espera e chega o ônibus. Quando olhei pra trás a fila já estava quilométrica e com a chegada do buzú comecei a perceber um burburinho que foi aos poucos se tornando uma gritaria e aos poucos um desespero. Quando o ônibus parou no ponto já não existia mais fila nenhuma. A galera toda, de uma só vez, se amassando na porta do carro e eu alí espremido com minha cara de otário. Quando a porta do ônibus foi aberta então... Ao invés de eu ir pra frente em direção a porta, eu era cada vez mais empurrado pra trás. Até um cara que estava de muletas correu, sim ele correu não sei como e entrou pela porta da frente e sentou. Tinha velha, criança, mulheres, um cara com umas caixas na cabeça, uma menina cheia de sacolas, todo mundo brigando por um pedacinho de espaço pra por o pé na escada do ônibus e subir. E o buzú foi enchendo, enchENDO e ENCHENDO até que ficaram uns caras pendurados na porta. Um dos caras era eu. O motorista não queria arrastar o carro porque disse que com a porta aberta não poderia sair da estação. Como não cabia mais ninguém alí, eu desci. Ele fechou a porta, a galera foi lá toda espremida. e o carro foi embora.


Mais uma hora de espera até que chegou outro ônibus, mas dessa vez, milagrosamente, não tinha muitas pessoas no ponto, então foi mais tranquilo. Entrei "de boa" e até encontrei um lugar pra sentar. Ô, desgraça! Antes eu ficasse em pé mesmo.


Acho que os empresários de transportes coletivos de Salvador pensam  que estão em Itabaianinha. Pra quem não sabe, Itabaianinha é uma cidade do interior de Sergipe que fica a 120 quilometros da capital, Aracajú, ela é conhecida como a cidade dos anões por causa da grande quantidade de "pessoas verticalmente prejudicadas". - pra ser mais politicamente correto com os pintores de rodapés, tamboretes de brega, pilotos de autorama... nanicos.


Tentei me sentar, mas minhas pernas não cabiam naquele minúsculo espaço. Sentei de pernas abertas na cadeira da janela. Mas minha folga durou pouco. Quando olho pra o lado vejo uma senhora com uma buzanfa avantajada se sentando quase no meu colo. Me espremi o máximo que pude e fiquei ali sentado de ladinho com os joelhos roçando no banco da frente e sem poder me mexer pra lado nenhum. Mas o bom disso tudo é que quando você pensa que a coisa está ruim ela pode ficar ainda pior. E quando se trata de mim então... as coisas sempre ficam bem complicadas. A velha da buzanfa grande se sentou do meu lado e com o balanço do ônibus começou a cochilar e cair com a cabecinha por cima do meu ombro. Boca aberta e as porras. E eu alí sem poder me mexer sendo feito de travesseiro.


A cada ponto o ônibus ia enchendo mais e maIS e MAIS. Eu, pelo menos, estava sentado. Não que aquilo fosse de todo bom, porque eu estava em uma posição ruim com só meia banda de bunda encostada na cadeira, espremido, o ossinho do joelho doendo de tanto roçar no banco da frente e a buzanfa da velha quase em cima da minha perna e a velha dormindo em meu ombro e já começando a babar.


De repente, no banco atrás do meu, um camarada pega o celular e coloca um som de pagode a toda altura. Um tal de chore na minha, chore na minha. Por que que aquele porra não colocava o fone no ouvido? Por que tinha que me obrigar a ouvir aquilo? Mas tentei ver pelo lado bom. Com aquele barulho todo a velha acordaria. Que nada. A velha agora escorregava do meu ombro pra minhas costas. O dinossauro chegou até a ressonar.

Eu até queria sair dali, mas estava imobilizado. Me senti como um prisioneiro sendo torturado da forma mais sádica.


Pensa que acabou? Pois o miserê está só começando.


Em um dos pontos subiu um moleque vendendo balas, gritando dentro do carro com aquela voz enjoada e sem pontuação, e assim ele começou a ladainha:


- BOA-TARNE-PESSOAL-EU-TÔ-PEDINO-A-AJUDA-DE-VOCÊS-AQUI-PORQUE-EU-TÔ-VENDENO-BALA-PORQUE-EU-PODIA-TÁ-MATANO-ROBANO-ESTRUPANO-CHEIRANO-FUMANO-PEGANO-O-QUE-É-DUSÔTRO-MAS-COM-A-AJUDA-DE-DEUS-E-DE-VOCÊS-QUERO-BATAIÁ-FIRME-E-FORTE...


Que castigo, viu. O pagode no meu pé de ouvido, a ladainha do ex potencial trombadinha vendedor de balas (trombadinha não! Segundo minha mulher que é Assistente Social, é apenas um menor em conflito com a Lei) e uma velha da buzanfa grande roncando com a cabeça totalmente dependurada por cima de mim. Eu mereço.


O cara não conseguiu vender nem uma bala. Acho que ninguém se comoveu com aquela história toda. Ele desceu do ônibus revoltado, xingando a galera toda. Só que agora ele falava com um som meio anasalado:

- Essas miséra num ajuda ninguém, rapá. Depois quando a gente mete a porra inda acha ruim. - ele foi falando e descendo do onibus cheio de marra, cheio de gingado de malandro. Totalmente diferente de quando subiu. Quando subiu no ônibus ele estava com uma cara de coitadinho que dava dó (Acho que agora ele estava em conflito existêncial).


Eu fiquei impressionado com o sono daquela mulher. Ela não acordava de jeito nenhum. O camarada do celular já estava na terceira música e ela nada. A música agora era o foge, foge, superman. Eu, que estou mais pra Clark Kent, não pela beleza tímida, mas pela cara de otário mesmo, nem podia fugir daquilo ali.


Vocês lembram da velha que apareceu no meu aniversário naquela história do carro de mensagens? Não. Ela não estava no ônibus. Mas apareceu um outro irmão, no meio do buzú lotado, bradando pra todo lado. O cara levantou de repente, eles parecem que brotam do nada, e começou:


- EIS QUE VOS É CHEGADO O REINO DOS CÉUS! A-LE-LÚ-I-ÁÁÁÁ!!! O SENHOR USA A BOCA DESSE HUMILDE SERVO PRA DEIXAR UMA MENSAGEM DE SALVAÇÃO NESSA HORA. Ô, GLÓRIA!!!


O resto você já deve imaginar: quase meia hora de gritos, e meio mundo de gente, dentro do ônibus, condenada ao inferno se não atendessem ao chamado do irmão que ali estava. Na hora que ele perguntou quem aceitava a salvação que levantasse a mão para o céu, eu até tentei levantar a minha, pois qualquer coisa que me salvasse daquele lugar eu abraçaria, mas era impossível levantar a mão, pois eu estava imobilizado sem poder coçar o nariz se quisesse. O único que levantou a mão foi um cara com jeito de quem tomou umas duas. O irmão perguntou se ele aceitava a salvação e o bebum respondeu entre soluços:


- Só se for (ic) com limão e açúcar.


A gargalhada dentro do ônibus foi geral. Até o irmão deu uma risadinha meio sem graça, mas logo se aprumou e continuou sua pregação. Quando percebeu que daquele mato não ia sair coelho, ele encerrou o discursso e se sentou de volta no mesmo lugar como se nada tivesse acontecido. Nessa hora, a velha sonolenta da buzanfa grande acordou, mas acordou por cinco segundos, tempo suficiente pra eu me reaprumar. Mas o espaço era mínimo e não consegui mudar muita coisa.


Naquela altura do campeonato, eu já estava entregue a situação. Não tinha mais nada a fazer. Então era esperar chegar no meu ponto e ir pra casa. Mas ainda, antes de terminar a viagem, depois de tudo que já havia acontecido, eis que começa a chover. Chover não, uns pingos que não matariam ninguém, mas foi o suficiente pra fecharem todas as janelas do buzú. E aí, meu amigo, o mau cheiro subiu. Uma mistura de cc com chulé, misturado com creme de cabelo, mau hálito, perfume barato, roupa molhada, desodorante vencido e, pra acabar de completar, a velha da buzanfa gigante, dormindo, soltou um pum. E eu não podia nem me mexer e, apesar de ter sentado do lado da janela, foi naquela parte que só tem o vidro, a janela mesmo ficava no banco de quem estava sentado na minha frente e no banco de quem estava atrás. Ou seja, eu tive que aspirar todo aquele torpedo que a velha deixou de presente pra mim.

Depois de quase duas horas de aperto, finalmente a viagem estava chegando ao fim. A velha parecia que tinha um despertador, no ponto dela ela acordou certinho e o ponto dela era o mesmo que o meu. Só que como o ônibus estava muito cheio a gente só conseguiu descer dois pontos depois. Ainda voltamos andando. Pelo menos deu tempo de vir batendo um papo com ela e diminuir minha raiva já que descobri que a velha da buzanfa grande,  picada pela Tsé tsé, é até gente boa e de bom papo - quando está acordada.


O carro ficou bom três dias depois. Fui buscar o carro, mas fui de carona com um amigo. De ônibus, Deus queira que nunca mais eu precise pegar.



*FUI!




*Mas vou de taxi. Eu e a Angélica.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pesadelão!



AAAAHHHHHHHHHH!!!

Três e quinze da madrugada e acordo assustado com um grito terrível. Ainda tateando, consigo ligar o abajur e vejo minha mulher sentada na cama, toda molhada de suor, pálida e tremendo.

- O que houve, Lindinha? - pergunto preocupado.

- Tive um, um, um... pesadelo horrível. - Ela fala com voz trêmula.

- Que pesadelo foi esse?

- Uma mão... um mamão eeee... um anão.

- Hein?!

- É. É isso mesmo. Era uma mão e um mamão e um anão.

- Calma, foi só um pesadelo. Agora vá dormir.

- Não consigo. Foi muito assustador.

- Tá vendo o que dá encher a barriga de miojo com ovo frito  e cerveja antes de dormir?

- Pôxa! Eu preciso de um abraço.

- Eu te dou um abraço e a gente vai dormir. Não precisa ficar assustada só porque sonhou com duas mãos e um anão.

- Não eram duas mãos. Eram uma mão e um mamão e um anão.

- Ah, não. Um anão e dois mamões?

- NÃO! Ela grita já chateada - UM ANÃO, UMA MÃO E UM MAMÃO!

- Lindinha, eu estou com sono e esse papo cacofônico tá começando a ficar cabeça demais pra mim. Boa noite.

- Não. Espera. Eu preciso contar. Preciso desabafar.

Um tanto contrariado, mas eu me sento na cama pra ouvir o desabafo da minha mulher. Estou cansado, mas fico ali esperando ela contar sobre esse sonho maluco.

- Eu vi um mamão em cima de uma mão de um anão.

- O anão era mamão e tinha um mamão em cima dele? Mas ele era um mamão no sentido de fruta mesmo ou mamão no sentido de ser um pamonha?

- Pamonha, Luciano? Pelo amor de Deus! O anão era um anão mesmo. A mão era uma mão e o mamão era um mamão. Qual a dificuldade nisso?

- A mão era o que, mesmo?

- Luciano, só me ouve, por favor! - Continuei ouvindo ela falar, mas comecei a pensar que agora, com certeza, minha mulher tinha pirado de vez. Eu teria que interná-la. Juliano Moreira, Sanatório São Paulo, fiquei ali matutando pra onde eu a levaria. - Era um ma-mão, entendeu, porra?

- Entendi, entendi. - Louco e cliente a gente nunca contraria. Eles têm razão. Sempre.

- Um mamão, fruta.

- E tem mamão verdura, amor?

- CALA A BOCA! Que coisa. - e continua: - Em cima de uma mão - ela fala apontando pra própria mão.

- Entendi, entendi.

- De um anão. - ela levanta a mão à meia altura me mostrando o tamanho do anão.

- Ahhh, agora eu entendi, amor. Sim e daí?

- Daí que o anão me oferecia o mamão e...

- Ah, não! Espera aí! O anão segurava um mamão com uma mão e a outra mão ele te oferecia? Você está tendo sonhos eróticos aqui do meu lado?

- Ele não me oferecia a mão, idiota, e sim o mamão.

- Porra! Eu acho que estou ficando maluco também.

- Como assim, maluco também? Você acha que estou louca?

- Eu sempre desconfiei, mas agora estou tendo certeza.

- Insensível. Grosso.

- Desculpe. Continue. Mas por que ele não oferecia uma maçã como um dos anões da Branca de Neve?

- Branca de Neve realmente tinha sete anões ao seu lado, mas quem ofereceu a maçã foi a bruxa - ela me corrigiu.

- Ok. Continue seu sonho.

- Eu perguntei pra o anão: Qual é o seu nome? E ele respondeu: É Lon.

- Elon? Um anão chamado Elon. Sei.

- Não é Elon é só Lon.

- Ah, Solon.

- Não, seu burro, é LON, LON.

- Elonlon? Porra, que nome esquisito.

- É SÓ LON, LON, QUE DIABO!

- Tá, desculpe. Eu agora entendi o nome do anão. Solonlon

- Luciano, sinceramente, a sua estupidez e ignorância é o que acaba com a minha beleza. Boa noite. Imbecil insensível.

- Vai dormir, vai. Vai lá sonhar que tá comendo mamão na mão do anão Solonlon, Elonlon, ou eu sei lá que porra. Traidora!

- Idiota!

- Louca!

- Pateta!

- Comedora de mamão!

Fomos dormir de costas um pra o outro.

Fui dormir, mas de manhã fiquei intrigado. Passei a noite toda sonhando com a tal propaganda do cervejão, o anão e o mulherão. Sei não...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Armadilha pra patinho



Nem no meu aniversário eu me livro de confusão.
Ô, vida ingrata, sô!

Era o dia do meu aniversário, mas como a data caiu em uma quinta-feira, resolvi que não comemoraria. Eu ia esperar o final de semana pra fazer um almoço só pra alguns familiares. Recebi meus parabéns, beijos e abraços da minha mulher, ligações de meus irmãos e de meus pais com as felicitações e recomendações de minha mãe.

- Se cuide. Se alimente porque achei você meio magrinho quando teve aqui em casa da última vez. Diz pra sua mulher cuidar melhor de você...

- Tá bom, mãe, tá bom.

- Porque eu não tive filho pra ser cuidado de qualquer jeito e...

- Tá bom, mãe! Tá bom, tá bom.

Mãe é mãe. Fazer o quê?!

Fui trabalhar como em qualquer outro dia até as oito horas da noite quando minha mulher, a Lindinha, me liga e pede pra que eu vá pra casa porque queria ficar um pouco comigo, pois era meu aniversário e ela havia feito uma janta bacana, etc e tal. Como sei que ela cozinha divinamente e provavelmente devia ter feito alguma coisa especial, nem pensei duas vezes, me mandei.

- Amor, - disse ela ainda - quando estiver próximo de chegar ligue pra avisar.

- Avisar pra quê?

- Pra deixar tudo prontinho pra quando você chegar.

Concordei e segui.

Enquanto eu ia pra casa passou por mim um carro todo iluminado, todo colorido, cheio de bolas de aniversário, piscando na frente, no lado, no fundo, neon pra todo canto... Era um daqueles diabos de carros de mensagens.

Existe entre mim e minha mulher um contrato imaginário que jamais deve ser quebrado. Nesse contrato reza que em hipótese alguma ela contratará um carro de mensagens pra mim. Nem em festa de aniversário, nem de casamento, formatura, batizado, chá de bebê, nem se o Bahia for campeão mundial. Só existe uma exceção em caso de morte de sogra. Aí pode chamar carro de mensagens, banda e coreógrafos.

O carro passou e eu ali indo pra casa todo feliz, afinal de contas eu ia ganhar um jantar especial de minha amada.

O carro dobrava uma rua à esquerda e eu também. Ele subia uma ladeira e eu ali, atrás dele, subindo junto. Ele virou à direita e eu seguindo junto com ele. Ficava imaginando quem seria o pobre coitado, ou a pobre coitada que iria sofrer ouvindo aquelas musiquinhas ridículas com mensagens cafonas. Mensagens tão cafonas quanto falar cafona.

Liguei avisando que estava perto de casa.

- Já? Chegou rápido. Então, mô, compra um refrigerante.

Parei pra comprar o refrigerante e ainda vi aquele trio elétrico de baile gay subindo a ladeira.

Entrei pelo portão do condomínio.

- Parabéns, seu Luciano - me falou, entusiamado, o porteiro.

- Obrigado, obrigado. - respondo sem entender como ele descobriu que era o meu aniversário. Mas fiquei sem entender por pouco tempo.

Não é que quando eu chego na porta do meu prédio estava lá o demônio colorido e neonizado - o carro de mensagens? No portão do prédio, em pé, estavam: minha mulher, meu filho, meus cinco gatos - SIM! Cinco gatos - minha cadela cega e doida - SIM! Cinco gatos e uma cadela cega e doida - e uma mulher vestida de, sei lá, acho que era chapeuzinho vermelho.

Meu coração gelou. Senti meu rosto queimando, ardendo. Minha pressão caiu, pensei que ia desmaiar. O meu primeiro pensamento foi o de não descer do carro, fazer a manobra e me picar dalí, mas quando meu carro chegou o camarada que dirigia a viatura colorida maldita, soltou uns rojões e... PÁÁÁÁÁÁ! PÁ, PÁ, PÁ! PÁÁÁÁÁÁ! Chamou a atenção de mais de duas dúzias de crianças que estavam dentro do condomínio. Não demorou mais de um minuto e meio pra eles estarem todos ao redor do carro e de mim que, a essa altura, já estava ali em pé com cara de "socorro, meu Deus".

Só conseguia pensar na quebra de contrato da minha mulher. Como ela pode fazer isso comigo? E o pior é que como o contrato era imaginário, eu não tinha como entrar com ação pra receber meus direitos por rescisão. Na verdade não existia nem claúsula falando sobre multa por rescisão. Na verdade nem existia contrato.

Depois de soltar mais de três mil rojões (filho da puta zoadento), a chapeuzinho vermelho, dançarina de flamenco, sei lá, começou a falar com aquela voz esgarniçada enquanto ao fundo ouvia-se a música "Parabéns da Xuxa".

(Hoje vai ser uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você...)
- Cadê o aniversariante? Vamos chamar ele, gente? Lu-ci-a-no! Lu-ci-a-no! Lu-ci-a-no... Gritava ela e as mais de cinquenta pessoas que agora se amontoavam ali. (...é o seu aniversário...)

Minha mulher (cara de pau, miserável, desgraçada, quebradora de contrato) estava lá com um sorriso de lata de orelha a orelha, dando pulinhos, batendo palmas e gritando meu nome também. E eu retado da vida, mas sorrindo pra disfarçar. Sorriso hipócrita, mas sorrindo. Sorriso amarelo, mas sorrindo. Sorriso sem graça, mas sorrindo.

A chapéuzinho vermelho continuou falando igual atendente de "telemarketing"

- Luciano, - ela fala olhando pra mim - nós vamos estar passando uma mensagem pra festejar o seu aniversário e depois - agora fala olhando pra todos os lados - vamos estar dando a oportunidade de alguns de vocês virem deixar suas mensagens para o aniversariante, ok, gente!?

Já mais tranquilo, fiquei ouvindo a mensagem gravada por um locutor qualquer. A mensagem pelo menos era bonitinha. Mentira, a mensagem era H-O-R-R-Í-V-E-L!!! Mas aguentei firme até o fim.

Mais fogos: PÁÁÁÁÁÁÁ! PÁ, PÁ, PÁ! BUUMMMMM!!! e a chapéuzinho vermelho, a mestre de cerimônias vestida de espanhola, sei lá, chama alguém pra deixar uma mensagem.

Vi quando minha mulher estava andando em direção ao carro pra pegar o microfone, só que, do nada, apareceu uma velha, sei lá de onde, com uma bíblia na mão e bafou o microfone da mão da pobre garota vestida de rubro. Minha mulher quando viu que perdeu a parada veio e ficou do meu lado. (Quase aproveito a oportunidade pra esganar ela ali em público, mas mantive meu sorriso hipócrita e fiquei alí do ladinho dela).

- Quero aproveitar a oportunidade - começou a velha - pra deixar uma mensagem do Senhor pra o aniversariante e pra todos vocês.

Silêncio total. Até a música que estava tocando de fundo foi cortada pra que todos pudessem ouvir melhor a mensagem divina. E ela continuou:

Deus manda dizer que ele vai voltar e muitos vão estar festejando aniversário e fazendo festas naquele dia e vão ser pegos de surpresa, amém, aleluia! E que as almas dos pecadores  que não estiverem na comunhão, vão pra o fogo que não apaga. Lá vai ter dor e ranger de dentes. Digam glória a Deus, irmãos!

Ainda bem que eu não quis nada daquela festa que estava acontecendo ali. Acho que não vou pra o inferno, mas a minha mulher eu não sei.

A velha agora olhando pra mim começa a falar. Falar não, gritar histericamente:

- O SENHOR, A-LE-LU-I-ÁÁÁ, TE DIZ QUE VOCÊ É UM INSTRUMENTO NAS MÃOS DELE. MAS TEM UMA MULHER NA SUA VIDA, ÔÔÔÔÔÔ, GLÓÓÓÓRIAAAA! QUE ESTÁ TE ATRAPALHANDO...

Não sei de que mulher a velha falava, mas olhei pra minha mulher com a minha pior cara de mal e ela olhando pra mim com a cara mais feliz do mundo. Atrapalhar minha vida não, mas meu aniversário ela conseguiu bagunçar todo.

De repente a velha veio em minha direção, botou a mão na minha cabeça e começou a gritar:

- SÁI DELE, ESPÍRITO RUIM. SÁÁÁÁIIII DEMÔNIOOOOO!!!

Eu não dei uma rasteira naquela velha porque aprendi a respeitar os mais velhos. E a velha lá com a mão na minha cabeça e me empurrando pra trás e chamando o demônio no meu ouvido aos berros. Achei até que ele vinha. Era só o que faltava chegar naquele aniversário. E minha mulher do meu lado caindo na gargalhada.

Fiz um sinal pra menina, a garota vestida de chapeuzinho vermelho, tomar o microfone da mão daquela doida. Quando ela encostou, a velha deu a doida de vez e começou a gritar:

SÁI PRA LÁ, POMBA GIRA DOS INFERNOS. CÊ TÁ AMARRADA, DIABA! VAI PRAS PROFUNDEZAS DE ONDE VOCÊ VEIO. TÁ AMARRADO! TÁ AMARRADO!

Meu aniversário que já não estava bom ficou ainda pior e mais constrangedor. Quando olhei pra o lado, Lindinha estava no chão passando mal com o ataque de riso que teve. Três dos meus cinco gatos fugiram. Minha cachorra cega e doida agarrou no vestido da pomba gira, quer dizer, chapeuzinho vermelho e quase deixa a garota nua o que fez a velha gritar ainda mais alto:

- TÁ AMARRADO, ESPÍRITO DE PROSTITUIÇÃO!!!

O maluco do motorista do carro de som de entrar no carro e se mandar dali, ainda ficou soltando fogos. Agora eram coloridos e apitavam.

Corri pra minha casa, me tranquei e só saí de lá três dias depois. Ainda estava envergonhado.

Fiquei sem falar com minha mulher por quatro dias. Não somente pela mico que ela me fez pagar, mas principalmente porque ela mentiu. Não fez jantar nenhum. Era só uma armadilha pra o patinho cair.

Carro de mensagens, por favor, nunca mais.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Rosa Nonatto - Linda e talentosa


Amigos,

hoje ao invés de um texto eu vou postar um vídeo de uma das cantoras de samba mais talentosas dessa Bahia - Rosa Nonatto - que além de talentosa é linda, cheia de rebolado e, por acaso, é a minha querida esposa.


Esse show foi apresentado na Praça Municipal no dia do samba. Foi maravilhoso.


Espero que vocês curtam e gravem este nome:

ROSA NONATTO


Ainda esta semana eu trago um texto cheio de humor pra vocês.


Valeu!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu, cidadão do mundo


Taxistas de Salvador, sempre deixando os turistas com uma boa impressão da nossa cidade.

Se liguem na história.

Sou o primeiro carro do ponto. A central me chama pra passar coordenadas de uma corrida:

- Carro 077, copia a central?

- Positivo, central - respondo.

- 077, adiante para o aeroporto. Quando chegar lá informe para que a central possa passar o restante das coordenadas. - A central mandou, eu adiantei.

Cheguei rápido no aeroporto. A Paralela estava livre. Ótimo.

Tentei chamar a central, mas ela não me copiava:

- 077. A central copia o 077? - não obtive nenhuma resposta.

Procurei um lugar pra estacionar o carro e fui para o portão de desembarque. Chegando no desembarque liguei para a central para anotar as coordenadas.

- Pocotó taxi, bom dia!

- Alô, central, é o 077. Quem é o cliente aqui no aeroporto?

- 077, no portão de desembarque, senhor Washington, a 01:15h. O senhor escreva em uma placa o nome do cliente pra que ele possa te localizar. É no portão de desembar... - Quando a central ia me passar o restante das coordenadas, meus créditos acabaram. Malditos créditos que só acabam na hora errada. O pior é que tinha deixado minha carteira no carro. Fiquei sem crédito, sem poder ligar e sem o restante das informações. Mas eu tinha o básico: sabia o nome do passageiro e a hora que ele ia chegar. Olhei para o relógio e vi que já era 01:25h, ou seja, se não teve nenhum atraso, ele já havia chegado.

Corro num balcão qualquer daqueles que ficam lá no aeroporto, de aluguel de carro, serviço de taxi e outros mais, e peço uma folha de papel e uma caneta. Começo a escrever o nome do camarada. O problema é que agora eu sei como escreve, mas no dia eu não sabia escrever Washington. Nem sabia escrever e nem tinha a ajuda do pai dos burros modernos: Mister Google. Também não ia de jeito nenhum pagar o mico de perguntar a alguém no aeroporto como que se escreve Washington. Homem que é homem nunca deixa transparecer que não sabe uma coisa. Nunca pergunta onde fica uma rua, nunca olha manual de instruções e nunca vai pedir pra que ensinem a ele como se escreve Washington. Sendo assim, comecei a soletrar pra mim mesmo e a escrever na folha de papel:

WÓSCHITOM

Pelo menos eu sabia que começava com "W".

O que é que passa na cabeça dessas mães que colocam esses nomes complicados nos filhos? Ficam traumatizando os coitados. Tive um amigo de infância que todos conheciam ele por Dal. A família chamava ele de Dal. Os amigos chamavam ele de Dal. Todos chamavam ele de Dal. Ninguém sabia o verdadeiro nome de Dal. Ele não falava pra ninguém mesmo. Até que um dia a carteira de identidade de Dal caiu no chão, ele não viu e eu peguei. Lá estava o nome do rapaz:

WANDERCOOCK LUIZ LIMA DOS SANTOS.

Coitado. Ele tinha vergonha do nome e vergonha porque não sabia escrever o próprio nome. Quando eu conheci Dal, ele tinha uns seis anos de idade e até os dezoito fomos muito amigos. Só que ele mudou de cidade e nunca mais eu o vi. Engraçado foi ele ter mudado de cidade, coincidentemente, duas semanas depois de descobrirmos o nome dele. 

Mas, voltando pra o aeroporto...

Fiquei segurando aquele pedaço de papel por pelo menos uns cinquenta minutos e nada de aparecer ninguém. O saguão do aeroporto vazio e nada do tal de Washington chegar. Estava já pra desistir quando olhei e vi sentado num banco próximo ao portão de desembarque internacional, um casal com um garotinho. Pareciam que também estavam procurando alguém. Tentei a última cartada.

- Olá! O senhor é seu Washington? Perguntei meio sem jeito e apontando para o papel onde escrevi o nome do cara, quer dizer, tentei escrever.

- Washington? Oh, yes, yes! - o cara respondeu com entusiasmo, apertando a minha mão e falando inglês. Pelo menos não era um Washington baiano, cearense, sergipano, brasileiro. Era um Washington original dos states. Mas aí é que estava o problema: Um Washington brasileiro falaria a minha a língua, mas um Washington original dos states...

Pra começar, como dizer ao cara que era pra ele esperar enquanto eu ia buscar o carro? Fiz um gesto com a mão, como um guarda de trânsito quando dá ordem pra que os carros parem e comecei a falar alto e separando as sílabas como se o cara fosse um lerdo, um doente mental ou qualquer coisa assim.

- EU VOOOU, VOUUU,  BUS-CARRR O CÁÁÁR-ROOOOO, CÁÁÁR-ROOOO. FIII-QUEEE AAAA-QUIIII, AA-QUIIII!. - acho que o fato de falar e fazer gestos com a mão, fez com que ele entendesse o recado. Também, eu quase rasgo a camisa do rapaz forçando ele se sentar pra esperar.

Voltei com o carro, chamei ele, arrumei as malas do jeito que deu dentro do porta malas e no colo da mulher, do filho e dele mesmo. Eram malas demais. Agora eu tinha que saber pra onde eles iam. Como?!

A Getax (Gerência de Taxi de Salvador) junto com a prefeitura, vez por outra promovem cursos gratuitos de línguas para os taxistas. Mas sabe como é, né?! É aquele curso bem basicão. É bom dia, boa tarde, boa noite, como vai? Qual seu nome? Etc, etc. O trivial. O feijão com arroz, o papai e mamãe. Fiz um curso desses certa feita. E saí da sala de aula realmente acreditando que eu podia. Como diria "meu amigo" Barack: "YES, WE CAN". O problema é que só surgiu a oportunidade de usar, na prática, esse inglês macarrônico agora, nesse episódio, dois anos e meio depois. Dois anos e meio são novecentos e doze dias e novecentos e doze dias são vinte uma mil oitocentas e oitenta e oito horas. É tempo suficiente pras informações não usadas irem pra o arquivo morto e do arquivo morto irem pra o lixo do cérebro. E assim depois que as frases do "BOOK ONE" foram pra o lixo do meu cérebro, é que precisei usar todo o meu conhecimento da língua britânica. Aí, "MEU BROTHER", lascou-se.

Tentei ser simpático puxando uma conversa com o cara:

- "Uóticio neime? - perguntei cheio de confiança. Mas a cara que o rapaz fez foi a mesma cara de quem é pego quando solta uma bufa. Aquela cara de: "HEIN, EU?! Perguntei mais uma vez, agora daquele jeito de quem está falando com um abilolado:

-UÓÓÓTICIÓ, UÓÓTICIÓ, NEIIIMIII? - O camarada olhou pra mulher, pra o filho, fez um gesto qualquer e falou:

- I want to go to a good hotel in Salvador. - Porra, fudeu! Só entendi Hotel Salvador.

UÓÓTI??? O senhor pode repetir? - falei assim em português mesmo, já começando a suar de nervoso, mas logo lembrei que ele era gringo e joguei:

- REPETEIXON, PLIS! - Não sei se ele entendeu, mas sei que ele repetiu. O que não quer dizer que adiantou alguma coisa, porque eu mais uma vez só entendi Hotel Salvador.

E agora, como explicar pra ele que o hotel Salvador tinha fechado? Tentei do meu jeito com o meu "imbromeichon":

- NO, NO! HOTEEEEEEEL SALVADOOOORRR OFI. GUEIIIIMEEEEEE ÔÔVÉÉÉÉÉÉ. ISTÓPIIIII. DÉÉÉÉÉÉÉ ÊNDIIIIII - Vendo que ainda o cara não conseguiu entender, tirei a minha última carta da manga:

- HOTÉÉÉÉLLL SALVADOOOORRR NA CHON, NA CHON!!!

Não adiantou.

Bom, tentei jogar  a responsabilidade pra cima dele. Ao invés de eu falar inglês, vou perguntar se ele fala português. Assim ele que se vire pra falar comigo.

- DU IÚ, DU IÚ, ISPIQUE PORTUGUÊS? - Mais uma vez o cara não entendeu nada do que eu disse. 

O único jeito que achei foi levá-lo até a porta do hotel Salvador pra que ele pudesse ver que o hotel já não funcionava mais. Fiquei caladinho. Só o garoto que de vez em quando falava:

- Dad, i'm hungry.

-Calm down, son. - ele respondia

Cheguei em Ondina e apontei o hotel fechado. Ele com cara de quem não entendia nada e eu suando sem saber o que fazer com aquela família no meu carro.

- Only want to go to a good hotel.

Continuei sem entender. Alí, diante daquele hotel, antes tão imponente e agora fechado, eu na frente daquele cara sem entender patativas do que ele falava, me fazia pensar como foi a galera toda lá diante da torre de Babel. Deve ter sido um tal de "fuck you", filho da puta, sem fim. Arrastei o carro e decidi, por conta própria, que ia levá-los a qualquer hotel por ali mesmo. E foi o que fiz. Ainda ouvi a mulher dizendo:

- We being kidnapped?

Não sei o que ela falou, mas acho que se sentia aliviada por eu estar tirando eles dali e levando pra um lugar seguro em que pudessem descansar.

Parei na porta de um grande hotel aqui de Salvador. Que alegria eu vi estampada no rosto daquela família. A mulher ficou encantada com a vista para o mar que tinha no hotel (pelo menos eu acho que ficou. Era madrugada e não dava pra ver vista nenhuma). O camarada me pagou a corrida me agradecendo e dizendo cordialmente:

- You're crazy, but thanks.

Acho que ele falou que o hotel era incrível. E "tênquis" eu tô ligado que era ele dizendo: Obrigado!

- TÊNQUIU VERI MATI, SENHOR!

Fui pra casa feliz por cumprir o meu dever como cidadão e como taxista que tem obrigação de tratar bem o nosso turista.

Semana que vem estou entrando mais uma vez num curso de inglês gratuito de duas semanas. Agora, com um curso completo de duas semanas, ninguém me segura. Vou ganhar o mundo.

"RASTA LA VISTA, BEIBI!"

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os chiques e seus chiliques


Percebi que vocês gostam de histórias de casal. Foi assim com a história da loira azeda e foi assim com minha história de réveillon. Percebi também que vocês gostam de histórias em que eu me dou mal. Então, mesmo despelando, igual a passarinho quando troca as penas, por causa do sol que tomei no primeiro dia do ano, vou contar mais uma "história de amor". Segura essa.

Fila de taxi de um ex grande shopping de Salvador. Nenhum é igual a ele - todo cheio de puxadinhos. Quase duas horas de espera até que chega minha vez de sair. Um casal entra no carro. Era um casal jovem, por isso achei estranho quando ele se sentou na frente e ela no banco de trás. Geralmente casais jovens se sentam no banco de trás e vão numa pegação danada. Se o taxista deixar tem uns que querem fazer o vuco-vuco no carro mesmo. Fica mais barato porque não precisa pagar taxi e depois o motel. Paga só o taxi e adianta o lado ali mesmo. No meu não que o meu taxi é de família. Enfim, ele se sentou e disse pra onde ia:

- Graça, por favor, amigo.

Ela se sentou no banco de trás, como eu já disse, calada e de cara amarrada. Ela estava pra poucos amigos. Os dois estavam notoriamente brigados.

Vocês já sabem que eu falo mais do que a nega do leite e assim procurei puxar uma conversa. Aquela conversa bem básica, típica de taxista mala.

- Rapaz, tempo mudou de repente, né?

- É, mudou. Mas o senhor pode adiantar um pouco que eu estou com pressa? - O cara respondeu num tom baixo, porém firme. Tomei logo um toco pra deixar de ser besta e conversar menos. Fiquei calado então.

Passados uns cinco minutos de corrida funeralmente silenciosa, a jovem resolveu quebrar o silêncio:

- Pôxa! Você, né, Carlos? Você não tem respeito comigo não? Na minha frente, eu, sua própria mulher, e de flerte com outra... Como pode fazer isso comigo?

- Amor, eu não estava fazendo nada e você não vai brigar aqui na frente dos outros, né? - essa era a prova que eu precisava pra saber que o cara realmente tinha aprontado: Ele respondeu chamando a mulher de AMOR. Estava querendo enrolar a coitada. Esse aprontou com certeza.

Silêncio de novo.

Enquanto o silêncio pairava pelo carro eu pensava com meus botões: Gente fina é diferente mesmo. Olha como é uma briga de um casal chique, morador da Graça, um dos metros quadrados mais caros de Salvador. Ela se exasperou (porque rico se exaspera. Pobre tem chilique mesmo), mas ele conseguiu conter o desespero da mulher chamando-a de amor e falando baixo e educadamente. E assim continuamos o trajeto até a Graça.

Avenida ACM, Juraci Magalhães, Garibaldi... Já estava me preparando pra descer o Vale do Canela e subir o viaduto da Graça quando... O cara tomou a decisão mais errada daquele dia e, quiçá, da vida dele.

- Amigo, por favor, suba aqui a Federação, depois pegue ali pelo Campo Santo sentido Canela e suba a Graça. - Fiz tudo que ele pediu.

Novo silêncio.

Olhei pelo retrovisor e vi que a mulher agora enxugava elegantemente, com um lenço de seda, uma lágrima que teimava cair pelo cantinho do olho. Que diferença faz ter estirpe, ser de família tradicional, bem educada, fina, estudar em boas escolas... Até o enxugar de uma lágrima requer nobreza. Não era como aquelas mulheres moradoras de Periperi, Sussuarana, São Marcos, Caixa D'água, São Caetano, Cosme de Farias, Cabula, Brotas, cachoeiranas, feirenses, etc, etc e tal. Todos esses bairros e interiores com gente que não tem classe pra brigar. Gente que faz um escândalo danado, xinga, fala alto e quando chora puxa a blusa mesmo e assoa o nariz na camisa. Quando pensa que tem um pouco mais de classe, passa a manga da camisa no nariz e fala com a cara toda melecada. Uma nojeira só. Ela não. Chorava como uma diva do cinema. Uma Grace Kelly, Sofia Loren, Maureen Ohara, Bette Davis, Greta Garbo. Que fineza.

Subi a Federação e segui sentido Campo Santo. E foi bem em frente ao cemitério que a tragédia aconteceu.

Do Alto das Pombas saiu a piriguete com sua blusinha tomara que caia rosa fosforescente, seu shortinho jeans C-U-R-T-Í-S-S-I-M-O, um piercing no umbigo, uma tatuagem no cóccix escrito "Xandy, amor eterno", as pernas saradas - a desgraçada não tinha uma celulite e se tinha estrias ninguém sabe, ninguém viu. E tudo isso em cima de um salto ENORME, falando ao celular e com uma bolsa Louis Vuitton provavelmente comprada na mão dos "china" que também vendem tênis de "marca". Do rosto eu não sei dizer nada. Nem eu, nem ele olhamos pra cara da piriguete. Olhar pra cara pra quê?

Meu pescoço quase quebra (tomara que minha mulher não leia isso). Eu e o pobre coitado do rapaz que estava ali já murcho por ter aprontado com a esposa, fomos hipnotizados pelo movimento de vai e vem daquele quadril "pirigueteano". Primeiro foi apenas os olhos que seguiram atenciosamente o rebolado sinuoso. Depois os pescoços, juntos, como se fossemos praticantes de nado sincronizado, viraram para que pudéssemos ver melhor o caminhar daquela diaba que veio atazanar nossas vidas. E foi assim, de pescocinho virado e tudo que, de repente, eu vi a Greta Garbo da Graça se transformar em Dercy Gonçalves soteropolitana.

- FILHO DE UMA PUTA, GALINHA, CACHORRO, SAFADO DE UMA FIGA. VOCÊ NÃO TEM MULHER EM CASA NÃO, SEU MISERÁVEL? MINHA BOCETA NÃO LHE SATISFAZ, NÃO, SEU PORRA? - Gente, a mulher se transformou. Ela deu um tapa tão violento na cara do rapaz que eu acho que o pescoço dele entortou de vez.

Com o susto por causa dos gritos da mulher e do tapa que ela deu no coitadinho (preciso ser solidário com a raça), e por estar olhando ainda a piriguete do satanás, não vi que o carro da frente parou e bati no fundo de uma brasília velha. Desci do carro, a mulher desceu também xingando o camarada que só conseguia dizer:

- Mas, amor! Mas, amor... - Com a marca dos cinco dedos da mulher gravados no rosto.

Nisso já juntou uma roda. Apareceu gente de tudo quanto foi lado. Uns já gritavam que era pra mulher bater mesmo no cara. Do outro lado o dono da brasília veio tirar satisfação comigo me perguntando se eu estava cego. Não tinha como explicar pra ele que estava cego por causa de uma piriguete. Uma confusão total.

O pau rolou. Rolou mesmo. Descobri que a grã fina da Graça era boa de briga. Baixaria só vista em subúrbio, dessa vez sendo protagonizada por uma patricinha.

Quanto ao meu carro, acabei com a frente dele e a brasília velha do cara não teve nada. CARRO VELHO DURO DA PORRA!

Gente, grã fino também tem chilique e quebra o pau como qualquer um de nós. Mas o interessante é que... Eles xingam num português perfeito.

Fui!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ouçam o Pedro Bial





1º dia do ano... Aí é aquilo que todo mundo já sabe: Ressaca, cansaço e praia.


Chego cedo, ainda com cara de bêbado, pra poder aproveitar bastante o sol. Mas a luz do sol incomoda. O barulho incomoda. O vendedor de coco incomoda. O de picolé também. As crianças brincando de bola e correndo e jogando areia em cima de mim, incomodam. O cara vendendo queijo coalho com aquele troço em brasas quase queimando minhas pernas, incomoda. Tudo incomoda. Tento achar o cara que aluga cadeiras, mas não tem mais cadeiras pra alugar. E, se tivesse, a impressão que se tem é que não existe espaço na areia da praia pra colocar uma cadeira - gente por tudo quanto é lugar. Arranjo um cantinho milagrosamente esquecido pelos banhistas, estendo minha toalha e me deito. Bêbado. Tomei todas a madrugada toda. Apago. O sono me toma em fração de minutos. Acho que eram nove horas da manhã.

Segundo os especialistas, nove horas da manhã é a hora limite pra sair da praia com segurança, antes que os raios ultravioletas torrem você como um bife à milanesa. E, ainda assim, mesmo antes das nove, é necessário que você se proteja com bloqueador solar. Eu sei disso, tu sabes, o Pedro Bial sabe. Nós sabemos, vós sabeis, os especialistas sabem, mas dificilmente fazemos as coisas como devem ser feitas. Não ouvi os especialistas e nem o Pedro Bial. Esqueci de passar o protetor.

Me deitei, como disse, bêbado. Sem camisa e com uma sunguinha ridícula, muito parecida com a daquele cara que aparece na propaganda da cerveja com uma pochete do lado e dançando lambada. Peguei a primeira que achei quando cheguei em casa. - Minha mulher e a mania dela de não jogar nada fora. Essa sunga deve ter uns quinze anos. Nem cabia mais em mim, mas eu estava bêbado. Não sei como, mas ela entrou.

Barrigão pra cima. Foi assim que deitei e foi assim que dormi.

Seis horas de sono. Isso mesmo. Dormi das nove até as três horas da tarde. Aaaahhh!!! Acordei revigorado e descansado e renovado e, e, e... E todo estropiado, ardido, gratinado, queimado. Piscava os olhos e ardia o umbigo. O pior foi que na posição que eu deitei, de barrigão de "chops" pra cima, eu acordei. Ou seja, só torrei a parte da frente. Minhas costas, bunda, panturrilha, estavam amarelas como as mãos de quem solta um pum. Eu não conseguia nem mesmo me levantar do lugar, pois para levantar era preciso dobrar a barriga e isso ardiaaaaaaaaa. Pra acabar de completar eu estava com aquela sunga horrível e apertada. Só vim me dar conta daquilo quando o efeito do álcool passou um pouco, porque eu ainda estava um tanto bêbado, mas a sobriedade que vinha aos poucos me fazia entender que eu estava pagando o maior mico do ano e o ano tinha acabado de começar.

Consegui me levantar segurando as lágrimas. Não que eu não quisesse chorar, mas até as lágrimas ardiam meu rosto. Além do ardor do corpo todo queimado, meus testículos doíam. Quem mandou eu sair com uma sunga com numeração quatro vezes menor que o meu tamanho?

Quando já estou de pé, de olhos fechados, mãos levantadas, rendido à brisa do mar que refrescava a minha cara e minha barriga, ouço uma voz inocente e pueril gritando freneticamente:

- CUIDADO AÍ, TIO, COM A BOLA!!!

E assim, de olhos fechados e mãos erguidas, tomo uma puta de uma bolada que acerta a parte baixa da minha barriga e a parte alta das minhas coxas. Caio, quase desmaiado. A dor nos testículos, misturada a dor na barriga, que só quem tem testículos e já tomou uma bolada sabe do que estou falando, misturada a dor do corpo todo queimado, me fizeram esquecer que eu estava rodeado de gente numa praia lotada, jogar tudo pra cima e chorar feito uma criança. Chorei, chorei e chorei. Mas como eu ainda estava um tanto bêbado e estava rodeado de outros bêbados quase ninguém ligou. Só minha mulher que, comovida com a minha tão vexatória situação, me empurrava com as mãos em minhas costas, que era o único lugar do meu corpo que não doía ou ardia, para sairmos dalí e irmos embora. Eu só faltava gritar que queria a minha mãe. Não gritei de vergonha.

Chego no carro sem condição de dirigir. Cheguei na praia não sei nem como. Concluo que minha mulher, que dirige muito bem, diga-se de passagem, foi quem nos levou até ali, logo, ela nos conduzirá de volta pra casa.

Com muita dor ainda consigo me sentar no banco do carona. Só sentei uma banda da bunda porque a sunga apertada, a bolada nas "bolas" e o corpo todo ardido, me deixaram terrivelmente mal sem conseguir encontrar uma posição confortável. Minha querida esposa fecha a porta do carona com todo cuidado e vai pra o outro lado se sentar pra dirigir. Outro problema começa aí. Enquanto eu deitei na areia de barriga pra cima e dormi e tostei, ela deitou de bruços e, chapada como estava, apagou também. Queimou as costas toda e não podia sentar. Que situação deprimente, gente. Eu com a barriga e a cara vermelhas como um camarão e minha amada com a bunda e as costas em brasa.

Só chegamos em casa porque pegamos um taxi. Sim. taxista também paga taxi.

Agora vejam vocês a situação: Eu sentado no banco da frente com a toalha no banco do carro pra não molhar o banco do meu colega. E a sunga entrando na minha bunda e apertando meu saco e minha mulher deitada de bruços no banco traseiro, sem poder se sentar com as costas em carne viva.

Esse foi o primeiro dia do ano pra mim.

Meu consolo é saber que tenho mais 364 dias pela frente e duvido muito que eu consiga pagar um mico maior do que esse ainda esse ano.

Estamos aqui. Cheios de hipoglós até as pálpebras.

Feliz 2011!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vem neném, vem!


"OLHA 2011 CHEGANDO AÍ, GEEEEEENTE!!!"

Novinho em folha,
brand-new
zero quilometro,
no lacre,
cheirando a bebê,
zero bala,
cabaço,
com selo de garantia,
fresquinho,
ainda no leite,
engatinhando,
virgem,
intacto,
brilhando,
piscando de novo...

E com as páginas em branco para que possamos escrever o que quisermos para nossas vidas.

Eu espero contar com todos vocês me dando a maior força em 2011. 

VALEU!!!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Loira azeda.

Numa segunda-feira monótona qualquer, num trecho do Dique do Tororó, vejo um cara dando sinal pra que eu parasse o taxi. Paro, feliz por estar prestes a fazer a primeira corrida daquela tarde quente e abafada.

- Boa tarde! - Digo cordialmente, abrindo a porta e puxando rapidamente o banco dianteiro um pouco pra trás pra que o cliente se sentasse e se sentisse mais bem acomodado.

- Siga aquele ônibus! Siga aquele ônibus! - O camarada já foi falando, sem nem responder meu boa tarde, enquanto colocava o cinto de segurança e já suava em bicas.

- Como??? - Perguntei ainda meio sem entender o que o cara quis dizer.

- Siga aquele ônibus, meu amigo! - O cara me respondeu num tom de: "Qualpartedosigaqueleonibusquevocênãoentendeupraeurepetir?"

Pensei comigo: Eu sempre quis ouvir essa frase. Quer dizer, não exatamente esta frase. Eu sempre vi nos filmes e novelas o cara entrar no táxi e dizer: Siga aquele carro! ou: Siga aquele automóvel! E o taxista sair a mil por hora atrás de uma Ferrari, um Mercedes, no mínimo uma limusine, mas nunca ouvi ninguém entrar num taxi pra dizer: SIGA AQUELE ÔNIBUS! Então descobri que a realidade é bem diferente. Eu não estava em um filme hollywoodiano e nem em uma novela global. Eu estava em Salvador, Bahia, Brasil. E aqui as restrições orçamentárias são grandes, sendo que, no máximo, se segue um ônibus mesmo. Sem contar que meu carro é 1.0, a gás e eu ainda liguei o ar condicionado pra ver se o cara suava menos. Não tem a mínima condição de seguir um fuscão 1600, quanto mais uma Ferrari, com um carro assim. Liguei o taxímetro, coloquei meus óculos escuros (não tem como você seguir alguém sem colocar óculos escuros. Dá um ar mais policial), passei o dorso da mão na boca, fiz uma cara de mal, engatei a primeira marcha, pisei com tudo no acelerador e...

- PÁÁÁÁÁRAAAAAA!!! Que eu esqueci o dinheiro. Porra! - O cara gritou e eu quase tenho um troço.

Parei. Na verdade nem saí do lugar. Só foi uma cantadinha de pneu. Ele desceu rápido, entrou em um bar, demorou um pouco, eu desliguei o carro pra esperar. Ele voltou uns cinco minutos depois, com uma cara de desespero típica das pessoas que estão atrasadas pra prova de vestibular quando os portões já estão fechando e elas estão no meio da rua correndo.
Quando vi que ele estava vindo tentei dar partida no carro que, sabe-se lá por que cargas d'água, não quis pegar de jeito nenhum. Olhei pra o pobre coitado, que a essa altura estava ainda mais suado do que antes, e disse quase que me desculpando:

- O carro não quer pegar, senhor.

O camarada me olhou com um jeito de quem queria me dar um soco e correu pra tentar pegar outro taxi. Ele só esqueceu a lei da oferta e procura. E no caso de taxi a lei é a seguinte: Quando você procura não existe oferta. Depois de mais de cinco minutos esperando um outro taxi que não aparecia, ele voltou pra meu carro.

- O carro já ficou bom, companheiro? - Ele me perguntou meio chateado. Meio não. INTEIRAMENTE, TOTALMENTE, COMPLETAMENTE, chateado.

- Ainda não, senhor. Só se a gente tentar empurrar. - Respondi tentando mostrar uma solução. Mesmo sabendo que o "a gente" empurrar significava: ELE empurrar.

- Porra! Não é possível uma coisa dessas. - O cara bradou retado da vida.

E lá foi ele empurrando o carro e eu tentando, tentando e nada do carro pegar. Até que quando ele, o carro, bem quis... pegou.
O rapaz entrou no carro duas vezes e meia mais retado, cinco vezes mais suado e dez vezes mais apressado.

- Corre, meu amigo, corre, que o ônibus já deve estar quase no fim de linha.

- Qual é o destino do ônibus que o senhor quer que eu siga? - Perguntei pra ver se podia pegar algum caminho mais rápido e alcançar o tal ônibus foragido.

Ele parou um pouco, levantou os olhos olhando pra o teto do carro como se procurasse a resposta por ali, voando como uma mosca. Depois olhou de novo pra mim e respondeu um tanto triste:

- Rapaz, eu não sei pra onde ele ia não.

- Bom, senhor, vamos fazer o seguinte: - Dei logo um jeito de arranjar uma solução por que eu não queria perder a primeira corrida daquela tarde antes mesmo dela começar.

- Vamos seguir pelo Dique até o final e ver se encontramos o ônibus aí pela frente. Salvador tem sempre muitos congestionamentos mesmo, então, quem sabe...

Ele fez uma cara de aprovação e eu segui a mil antes que ele desistisse. E se desistisse queria estar longe dali pra que ele não pudesse voltar andando. Daí ele teria que voltar comigo e eu ganharia aquela graninha da tarde, né?!

Corri o máximo que pude. Mas, se tratando de Salvador, especificamente, do Dique do Tororó, o máximo que se pode correr é quarenta a cinquenta quilometros por hora. Para, congestionamento, corre por cem metros. Para, sinal vermelho, anda mais cinquenta metros, freia, cachorro atravessando a pista. Para, sinal de novo, segue, para, segue...

- Desse jeito não vamos conseguir achar esse ônibus nunca - Ele disse já resignando-se.

- Calma que quando pegarmos a Bonocô fica mais fácil. - Respondi.

Bom, a curiosidade está no meu DNA e não demorei muito pra perguntar:

- O que foi que aconteceu, que o senhor está assim tão aflito atrás desse tal ônibus?

- Estou seguindo uma figura aí que quer me botar um chapéu de touro, entendeu, pai?

Não falei mais nada. Na verdade nem sabia o que falar ao cara naquele momento em que ele estava, quem sabe, a minutos de descobrir se era mesmo corno.

Nós não tínhamos a menor idéia de pra qual lado o ônibus tinha seguido. Só que a sorte estava a favor do perseguidor e contra a pobre alma perseguida.

E não é que assim que chegamos na Bonocô o camarada avistou o "alvo".  Lá estava uma loira maravilhosa aos beijos com um cara, digamos... meio desprovido de beleza. Pensei comigo - É, o cara foi trocado por outro e o outro ainda por cima é feio. Porra!

- Pode parar bem pertinho que eu vou pegar os dois no flagra. Cobre logo aqui sua corrida. Pode ficar com o troco. - Aí eu sorri, é claro.

Parei o carro bem próximo do casal que agora conversava distraidamente. O cara desceu e eu ali querendo ir embora e querendo ficar pra ver.

O anjinho dizia na minha orelha direita:

- Vai embora, meu filho, que isso é briga de casal e você não tem nada com isso.

E o capetinha do outro lado...

- Fica pra ver o miserê, mané. Vai perder, é?

Obedeci o capeta. Fiquei.

Dei uma distância de segurança, por que vai que tem tiroteio e as porras, mas distância suficiente pra ouvir tudo.

O cara chegou de fininho, sorrateiro como animal selvagem que prepara o bote. Eu que não tinha nada a ver com aquilo, estava com o coração quase saindo pela boca. O "predador" foi se aproximando, aproximando, e... Deu o bote falando aos berros:

- MAS, TOINHO, SUA LEBÁRA, VOCÊ ME TRAINDO COM ESSA PUTA DESSA LOIRA AZEDA, "SINHA NINSGRAÇA"? SE FOSSE UM BOFE A DOR SERIA MENOR!!!

Ele foi falando e descendo a mão pela cara do tal Toinho que, ainda atordoado com a chegada repentina do, acho eu, namorado, não teve reação e tomou o tapão pela cara, seguido de outro pelas costas e mais outro pela caixa dos peitos e mais outro e mais outro. A loira quando viu o cacete armado, se picou batendo o calcanhar na bunda de tão rápido. Eu tratei de me mandar dali também sem entender exatamente o que aconteceu, ou melhor, entendi tudo. Confesso que ainda procurei a loira pra dar uma carona, apenas uma carona sem segundas intenções, acreditem. Gente, acredite na minha mais pura vontade de ajudar uma alma desesperada que, coincidentemente, apenas coincidentemente, era loira e linda. Mas a doida, na velocidade que saiu correndo, já devia estar lá na paralela e o trânsito de Salvador não me permite chegar na paralela de forma tão rápida.

E assim foi a tarde daquela segunda-feira quase monótona.

Ah! A loira foi encontrada dois dias depois quase lá em Aracajú. Toda borrada.

Quanto ao casal eu não tive nenhuma notícia. Esqueci de assistir o "No Alvo" do dia seguinte.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

SEM EDUCAÇÃO E SEM NOÇÃO


Eu xingo todo mundo no trânsito. Xingo mesmo, sem dó.

Tomo uma fechada - Xingo.
O camarada está atrapalhando o fluir do trânsito - Xingo.
Está no celular ziguezagueando no meio da rua - Xingo.
Fica colado na traseira do meu carro - Xingo.

Xingo porque é mulher.
Xingo porque é velho.
Xingo porque é novo.
Xingo porque é playboy.
Xingo porque é motoboy.

Xingo, xingo, xingo!

E toma-lhe:
"FÉLADAPUTAAAA",
"PÔÔÔRRAAAAAAAA"
"TOMAR NO REDONDO"
"CARÁLÉÉÉÓÓÓÓ"

Dou uma fechada - Xingo.
Estou atrasando o fluir do trânsito - Xingo.
Estou no celular ziguezagueando no meio da rua - Xingo.
Fico colado na traseira do outro carro - Xingo.

Porque é homem, xingo.
Porque é novo, xingo.
Porque é velho, xingo.
Porque é patricinha, xingo.
Porque é motogirl, xingo.

Mas xingo de vidro fechado e sem olhar pra o lado.
Somente eu mesmo consigo ouvir meus palavrões. Só eu, eu mesmo e minha pessoa.

Semana passada eu fui fechado por outro motorista e quase que perco o controle do carro. E aí, meu amigo... Eu xinguei aquele "FÉLADAPUTAAAAA" até umas horas (de vidros fechados, é claro). Só que o sinal fechou um pouco mais a frente e parei meu carro ao lado do dele. Então disse pra mim mesmo:

- Hoje eu vou procurar problema de verdade. Vou xingar esse Veado na cara dele.

Abri o vidro do carro com raiva, botei uma cara de mal, respirei fundo, olhei pra cara do camarada e... percebi que o cara era um policial fardado e de bigodão. Fodeu tudo. Tratei logo de tirar minha cara de zangadinho da mamãe e o máximo que falei pra ele foi:

- Bom dia, amigo, congestionamento chato retado, né?

O cara nem respondeu. Virou pra o outro lado como se eu nem existisse. Eu assobiei uma música qualquer inventada por mim mesmo pra disfarçar, fechei meu vidro, botei o ar condicionado no máximo pra ver se minha cara ardia menos e fiquei quietinho, quietinho. Mas só até a hora que o sinal abriu. Quando o sinal abriu... Eu esperei ele arrastar o carro primeiro, deixei ele se afastar, pelo menos, uns cem metros e aí, meu amigo... Ninguém me segurou.

FÉLADAPUTAAAAA!!!
VEADO DO BIGODE GRANDE!!!
CORNO DO CARÁLÉÉÉÓÓÓÓÓO!!!

Mas de vidro fechado e só pra mim mesmo que é bem mais seguro.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cascudos e cabeludos.

Dia desses fui convidado por uma amiga para comermos uns caranguejos num bar qualquer da orla de Salvador. Não sou tão fã assim de caranguejo, mas aceitei.

Nos sentamos, fizemos o pedido e esperamos. Conversamos um pouco sobre besteiras do dia a dia, rimos, contamos "causos", falamos da vida dos outros, essas coisas que todo mundo faz enquanto está em um restaurante esperando a comida chegar. Até que dez minutos depois chegou o garçom com um recipiente de barro, tipo uma caçarola, sei lá, não entendo nada de panelas, recipientes, caçarolas... Mas sei que os caranguejos vieram saindo fumaça ainda de quentes. Um outro vasilhame menor continha um pouco de pirão. Também vieram os pratos e uns tais martelos com umas tábuazinhas. Aí foi que começou o drama.

Eu estou acostumado a comer caranguejo quebrando nos dentes. Arranca uma perna do pobre coitado e depois abocanha, morde, prende nos dentes, chupa aquela carninha branca e macia e depois fica lá, de lado, só os restos de casquinhas de caranguejo pra se jogar fora. Mas naquele dia eu descobri que "gente coisa é outra chique", ou melhor, gente chique é outra coisa.

Ao lado de nossa mesa tinha um senhor de seus cinquenta e poucos anos, lendo uma revista, bebendo uma cerveja e comendo caranguejo. Pensei comigo: Não deve ser difícil. Olha como ele faz. O camarada não fazia o menor esforço pra quebrar a perna do caranguejo com aquele martelo. Era só pá! pá! pá! e pronto. Ele continuava lendo sua revista, comendo seu caranguejo e bebendo sua cerveja. Me animei. Depois de ficar olhando para os bichinhos ali dentro daquela panela por, sei lá, um minuto e meio, como se estivesse demonstrando toda a minha condolência pela suas mortes trágicas, coloquei um deles em meu prato, arranquei a perna mais grossa e cabeluda, segurei com a mão esquerda e com a mão direita segurei o martelinho. Levantei o martelo a meia altura, igual como vi o senhor da mesa ao lado fazendo, e comecei meu pá! pá! pá!

Porra, nem arranhou a pintura do caranguejo. Mas eu tentei de novo: pá! pá! pá! Nada. O caranguejo nem amassou. Enquanto isso minha colega de mesa estava lá parecendo um cachorro quando destrói um travesseiro na boca. Só faltava rosnar. As vezes parecia que ela estava rosnando, mas acho que era impressão minha. Sei é que ela nem falava, só devorava aquele negócio cheio de pernas e cabeludo. Decidi que iria aumentar a pressão pra cima daquele bicho e fui mais forte. PÁ! PÁ! PÁ! PÁ! PÁ! Eu agora dei cinco porradinhas e o desgraçado do caranguejo, por quem quase derramei algumas lágrimas quando vi chegar morto naquela panela, parecia estar rindo de mim lá no céu dos caranguejos.

Peguei raiva. Agora eu peguei ar. Isso não vai ficar assim não. Eu vou quebrar no pau esse caranguejo, agora. Pensei comigo mesmo. Levantei o martelo o mais alto que pude e... POU! POU! POU! POU! POU! Uma zoada retada, os outros clientes todos olhando pra mim, mas... eu consegui quebrar a porra da perna daquele caranguejo miserável. Quebrei, mas quebrei com tanta raiva que não consegui nem comer. As casquinhas se misturaram tanto com a carne que não deu pra separar. Viraram um mingau de casca e carne.
Enquanto isso o coroa do lado lia sua revista, bebericava sua cerveja e, pá! pá! pá! comia seu caranguejo na boa. Parecia até um lord inglês tomando o chá das cinco.

Tentei de novo. Não coloquei tanta força dessa vez, mas bati com vontade. POOUUUU!!! Foi uma só. Mas com tanta vontade que um pedaço de casca voou e acertou em cheio o olho de um dos garçons que passava com uma bandeja na mão pra entregar o pedido de outra mesa qualquer. O cara deu um grito meio abafado, se desequilibrou, derrubou a bandeja por cima de uma jovem que estava em uma mesa de frente pra minha, molhou a mulher toda de coca-cola com limão. Um furdúncio só. Fiquei na minha fazendo cara de "oquefoiqueaconteceu?" A mulher mandou chamar o gerente, alguns outros clientes reclamavam do barulho, eu estava morrendo de vergonha e minha amiga lá com a cara toda lambuzada e, ainda acho que ela estava, rosnando. A minha mesa, a essa altura, já estava totalmente tomada de cascas e restos de caranguejo pra todo lado. Parecíamos dois animais com comida espalhada por tudo que é canto. E o velhinho lá, lendo revista, bebericando sua cerveja e, pá! pá! pá! comendo caranguejo como se estivesse comendo uma lagosta num restaurante francês.

Aos trancos e barrancos conseguimos acabar com aquilo, mas a nossa reputação já tinha acabado desde o momento que pedimos aqueles troços cascudos e cabeludos.

Pedimos a conta e saímos de lá com a impressão de que todo mundo olhava pra gente e nos reprovava.

Pelo menos aprendi a lição: Nunca mais como caranguejo de martelinho.

Caranguejo só em casa triturando nos dentes, cuspindo as casquinhas e rodeado de conhecidos.