segunda-feira, 21 de março de 2011

PULA, CAI NO CHÃO! Carnaval 2011


Pronto. Carnaval acabou e a cidade já voltou a sua normalidade. Congestionamentos, trabalho, chefe, volta as aulas, fila dupla, tripla, quádrupla, na porta das escolas, enfim, aquelas coisas normais de nossa querida cidade e de nossa própria vida.

O carnaval acabou, mas as histórias do carnaval ficaram.

Então, levantem a mãozinha pra o ar e... Segurem!

Todo carnaval é aquela mesma coisa que todos sabem: Pula, sai do chão, levanta a mãozinha, bata na palma, vamos tremer a avenida, etc, etc, etc. Mas o mais gostoso do carnaval de Salvador é a "pegação". E a pegação é geral. Ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. "Eu quero mais é beijar na boca" já diz a letra da canção.  E é assim nesse espírito carnavalesco de azaração total que muitos se dão mal. (até rimei). Vejam por exemplo a história de minha amiga, Nélia. Ela, assim como eu, sempre se mete em furadas. Não é à toa que somos amigos. Vocês lembram da história do caranguejo? Ela, era quem estava comigo parecendo um cachorro rosnando com uma perna cabeluda de caranguejo na boca, lembram? Vejam agora como ela tem realmente o dom de se meter em barcas furadas.

Sábado de carnaval, Barra - Ondina. Galera bonita, sol, calor, cerveja, axé, mulheres maravilhosas, homens fortes, altos, bonitos, sarados, e foi assim que Nélia se deu mal.

Um ano inteiro pagando um abadá. Quase mil reais pra sair em um bloco de elite. Nélia é pobre, mas é metida. E metida demais. Quase passa fome, mas comprou o abadá só pra realizar o sonho de sair no bloco com o símbolo da patinha verde e que tem um ex cantor barbudo que agora ficou com cara de cágado. E a ousada da Nélia comprou. No dia de buscar o abadá me ligou na maior alegria me pedindo pra ir com ela, pois é muito perigoso sair por aí com um abadá na mão. Ainda mais um tão caro e tão visado. Reformou, reformou não. Customizou (reformou é coisa de quem ainda usa mortalha), ela mesma, o abadá em casa. A camiseta virou um topzinho. E Nélia, vestida no abadá, ficou até gostosa. Ela estava se achando. Andou aqui na rua pra cima e pra baixo só pra todo mundo ver que ela estava com o abadá do "gambá-leão". Se achou única. Até chegar na concentração do bloco e ver que tinha umas duas mil e quinhentas mulheres iguaizinhas a ela. Pensou: "Tem problema não eu ainda sou única no bloco". E era mesmo. Acho que ela era a única negra, baiana e da periferia dentro das cordas do bloco. Chamou atenção assim que chegou. No meio de tantas loiras de chapinha, luzes e o escambau no cabelo ela se sobressaiu com seu cabelo afro cheio de tranças. Pulou, gritou, quase entrou em transe de tanta emoção quando o "tartaruga ninja" cantou "Tá lisinho, tá lisinho". Lisinho ficou foi o bolso de minha amiga. COITADA!

Mas o bom de ser um pobre ousado é que você pode se dar bem. E Nélia, como boa pobre ousada, começou se dando muito bem nessa história. Pode até não parecer, mas começou se dando bem.

No meio do bloco haviam vários caras lindos, sarados, bombados, loiros, morenos, ruivos (até ruivos eram bonitos nesse bloco). Cada peitoral de deus grego que só vendo (vou até parar por aqui pra que ninguém duvide da minha masculinidade). E Nélia lá no meio se achando. Todo mundo beijando todo mundo, mas ninguém chegava na coitada da Nélia. Ela chegou a fazer biquinho na frente de um cara que quando viu que a garota destoava do restante do bloco achou que ela estava recebendo um santo em plena avenida. O cara gritou um "saravá, meu pai!" e se embrenhou no meio da galera. E Nélia ali quase dando cãibra nos beiços. Já estava quase desistindo de achar um gatinho quando a sorte SORRIU pra minha amiga. E o SORRISO da sorte era branco e perfeito.

Gente, nem minha amiga acreditava que aquele cara loiro, lindo, forte, cabelos de príncipe, nariz afilado e SORRISO perfeito (o cara era o próprio He-man), estava olhando pra ela daquele jeito tão sensual. Ela se beliscou duas vezes. Uma pra ver se estava acordada outra pra ver se não estava bêbada. Ela estava acordada e ainda não estava tão bêbada. O cara estava realmente olhando pra ela. E agora estava se aproximando olhando nos olhos dela. Por um momento ela não ouvia mais o som do trio elétrico, ainda que os decibéis estivessem quase duas vezes acima do que o ouvido humano pudesse suportar. Ela ouvia só o tum, tum, tum dos tambores do coração. (Pô! Fui profundo agora. Me arrepiei). Ainda que estivesse o maior empurra, empurra dentro das cordas do bloco, ela só enxergava aquele ser mágico e maravilhoso vindo em sua direção.

O cara nem disse oi. Também se dissesse não daria pra ouvir. Também ela não queria saber de papo ela queria era "pegada" e o cara tinha "pegada". Chegou chegando. Segurou ela pela cintura, puxou contra seu corpo másculo, seu membro ereto e pulsante,  seus músculos apertavam-na com a força viril de um macho no cio, (está parecendo aqueles romances porno/erótico que as mulheres adoravam ler no passado) sua mão grande passeava pelo corpo dela até parar sobre suas nádegas que, na onda das mulheres frutas que existem por aí, parecem duas bandas de jaca. Podres. E o garanhão encostou seus lábios nos lábios ávidos de minha amiga Nélia. E o beijo foi ardente, voluptuoso, de tirar o fôlego, cinematográfico. Quase cinco minutos se beijando sem parar. Quando o beijo acabou as pessoas ao redor aplaudiam. As câmeras de tv filmavam pra todo o Brasil ver aquela cena tão quente, tórrida, a verdadeira demonstração do calor do verão baiano. Até o cantor cara de cágado fez uma menção lá de cima do trio. PERFEITO. A única coisa mais perfeita do que toda aquela cena, era o SORRISO daquele cara.

O ruim de ser um pobre ousado é que pobre é sempre azarado (senão não seria pobre, né?) então quando tudo parece perfeito sempre acontece alguma coisa pra desandar o negócio.  E, quando tudo está desandado, sempre pode piorar.

Após o beijo o camarada a convidou para irem juntos para o carro de apoio. Ele queria ficar mais a vontade com ela e conversar um pouco. O cara era sempre solícito e SORRIDENTE. E o SORRISO dele era tudo de bom (segundo Nélia). Quando chegaram no carro ele fez questão que ela subisse primeiro. Um lord. No meio daquela confusão toda um príncipe encantado estava ali pronto pra ser o gentlemam perfeito pra minha amiga. Ela subiu e virou na escada pra ver aquela obra divina em forma de folião subir no carro de apoio. Ô, desgraça, meu Deus! O cara errou o pé no degrau do carro de apoio, saiu raspando a canela na escada. Sabe quando você toma aquele arranhão que primeiro a pele fica branca, depois é que o sangue começa a aparecer em forma de pontinhos? O cara que já era branco então... A raspada de canela foi o mínimo, o cara caiu de joelhos, meteu a caixa dos peitos na quina da escada e isso ainda não foi o pior. O pior foi que com a porrada na caixa dos peitos o cara cuspiu a uns dois metros de distância o SORRISO PERFEITO que tanto encantou minha amiga. Sim o loiro e lindo e forte, bombado, cabelos "numseioquê", tinha uma dentadura na boca que ele cuspiu com o impcato da queda. A perereca caiu no meio da galera, no chão, no chão da avenida, chão cheio de cerveja, umas poças de lama, misturado com aquele perfume que a rapaziada da limpurb passa assim que acaba o dia de festa. E gente pisava, chutava e o cara levantou meio grogue correndo atrás da perereca que pulava pra um lado e pra outro no ritmo da levada. Era chutada pra lá e pra cá, e ele de quatro no meio do bloco, sem ar por causa da porrada que levou nos peitos, a canela ardendo pra porra, e sem um dente na boca.

Ele achou a dentadura. Tudo bem, faltavam uns três dentes, mas ele achou. Pior: ele só deu uma lavadinha com cerveja mesmo, Enxugou no abadá e meteu na boca. Encheu a boca com mais três goles de cerveja, gargarejou, buchechou, cuspiu, e SORRIU. Nélia, a essa altura, já estava quase colocando os bofes pra fora de tanto vomitar. Cada vez que ela lembrava do beijo que o cara deu, a língua dele passeando por dentro de sua boca, a ânsia de vômito voltava. O camarada era duro na queda, ele ainda voltou querendo ficar com ela. Disse que nunca beijou alguém que tivesse um beijo tão gostoso como o dela. Falou em casamento e tudo mais. E como o som era muito alto, pra ser ouvido era necessário falar de pertinho. Imaginem o bafo do cara... Uma mistura de cerveja com chulé com lama com alfazema dos filhos de Gandhi com detergente da limpurb com odor de banheiro químico e baba. Ele falava e minha amiga vomitava.

Coitada da Nélia. Um ano sonhando esse sonho pra virar um pesadelo desse jeito. Ela me confessou que agora só sai de pipoca. Se sair. Mas eu conheço a Nélia, ela é ousada. Ano que vem ela sai de camarote. Quer apostar?