segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ouçam o Pedro Bial





1º dia do ano... Aí é aquilo que todo mundo já sabe: Ressaca, cansaço e praia.


Chego cedo, ainda com cara de bêbado, pra poder aproveitar bastante o sol. Mas a luz do sol incomoda. O barulho incomoda. O vendedor de coco incomoda. O de picolé também. As crianças brincando de bola e correndo e jogando areia em cima de mim, incomodam. O cara vendendo queijo coalho com aquele troço em brasas quase queimando minhas pernas, incomoda. Tudo incomoda. Tento achar o cara que aluga cadeiras, mas não tem mais cadeiras pra alugar. E, se tivesse, a impressão que se tem é que não existe espaço na areia da praia pra colocar uma cadeira - gente por tudo quanto é lugar. Arranjo um cantinho milagrosamente esquecido pelos banhistas, estendo minha toalha e me deito. Bêbado. Tomei todas a madrugada toda. Apago. O sono me toma em fração de minutos. Acho que eram nove horas da manhã.

Segundo os especialistas, nove horas da manhã é a hora limite pra sair da praia com segurança, antes que os raios ultravioletas torrem você como um bife à milanesa. E, ainda assim, mesmo antes das nove, é necessário que você se proteja com bloqueador solar. Eu sei disso, tu sabes, o Pedro Bial sabe. Nós sabemos, vós sabeis, os especialistas sabem, mas dificilmente fazemos as coisas como devem ser feitas. Não ouvi os especialistas e nem o Pedro Bial. Esqueci de passar o protetor.

Me deitei, como disse, bêbado. Sem camisa e com uma sunguinha ridícula, muito parecida com a daquele cara que aparece na propaganda da cerveja com uma pochete do lado e dançando lambada. Peguei a primeira que achei quando cheguei em casa. - Minha mulher e a mania dela de não jogar nada fora. Essa sunga deve ter uns quinze anos. Nem cabia mais em mim, mas eu estava bêbado. Não sei como, mas ela entrou.

Barrigão pra cima. Foi assim que deitei e foi assim que dormi.

Seis horas de sono. Isso mesmo. Dormi das nove até as três horas da tarde. Aaaahhh!!! Acordei revigorado e descansado e renovado e, e, e... E todo estropiado, ardido, gratinado, queimado. Piscava os olhos e ardia o umbigo. O pior foi que na posição que eu deitei, de barrigão de "chops" pra cima, eu acordei. Ou seja, só torrei a parte da frente. Minhas costas, bunda, panturrilha, estavam amarelas como as mãos de quem solta um pum. Eu não conseguia nem mesmo me levantar do lugar, pois para levantar era preciso dobrar a barriga e isso ardiaaaaaaaaa. Pra acabar de completar eu estava com aquela sunga horrível e apertada. Só vim me dar conta daquilo quando o efeito do álcool passou um pouco, porque eu ainda estava um tanto bêbado, mas a sobriedade que vinha aos poucos me fazia entender que eu estava pagando o maior mico do ano e o ano tinha acabado de começar.

Consegui me levantar segurando as lágrimas. Não que eu não quisesse chorar, mas até as lágrimas ardiam meu rosto. Além do ardor do corpo todo queimado, meus testículos doíam. Quem mandou eu sair com uma sunga com numeração quatro vezes menor que o meu tamanho?

Quando já estou de pé, de olhos fechados, mãos levantadas, rendido à brisa do mar que refrescava a minha cara e minha barriga, ouço uma voz inocente e pueril gritando freneticamente:

- CUIDADO AÍ, TIO, COM A BOLA!!!

E assim, de olhos fechados e mãos erguidas, tomo uma puta de uma bolada que acerta a parte baixa da minha barriga e a parte alta das minhas coxas. Caio, quase desmaiado. A dor nos testículos, misturada a dor na barriga, que só quem tem testículos e já tomou uma bolada sabe do que estou falando, misturada a dor do corpo todo queimado, me fizeram esquecer que eu estava rodeado de gente numa praia lotada, jogar tudo pra cima e chorar feito uma criança. Chorei, chorei e chorei. Mas como eu ainda estava um tanto bêbado e estava rodeado de outros bêbados quase ninguém ligou. Só minha mulher que, comovida com a minha tão vexatória situação, me empurrava com as mãos em minhas costas, que era o único lugar do meu corpo que não doía ou ardia, para sairmos dalí e irmos embora. Eu só faltava gritar que queria a minha mãe. Não gritei de vergonha.

Chego no carro sem condição de dirigir. Cheguei na praia não sei nem como. Concluo que minha mulher, que dirige muito bem, diga-se de passagem, foi quem nos levou até ali, logo, ela nos conduzirá de volta pra casa.

Com muita dor ainda consigo me sentar no banco do carona. Só sentei uma banda da bunda porque a sunga apertada, a bolada nas "bolas" e o corpo todo ardido, me deixaram terrivelmente mal sem conseguir encontrar uma posição confortável. Minha querida esposa fecha a porta do carona com todo cuidado e vai pra o outro lado se sentar pra dirigir. Outro problema começa aí. Enquanto eu deitei na areia de barriga pra cima e dormi e tostei, ela deitou de bruços e, chapada como estava, apagou também. Queimou as costas toda e não podia sentar. Que situação deprimente, gente. Eu com a barriga e a cara vermelhas como um camarão e minha amada com a bunda e as costas em brasa.

Só chegamos em casa porque pegamos um taxi. Sim. taxista também paga taxi.

Agora vejam vocês a situação: Eu sentado no banco da frente com a toalha no banco do carro pra não molhar o banco do meu colega. E a sunga entrando na minha bunda e apertando meu saco e minha mulher deitada de bruços no banco traseiro, sem poder se sentar com as costas em carne viva.

Esse foi o primeiro dia do ano pra mim.

Meu consolo é saber que tenho mais 364 dias pela frente e duvido muito que eu consiga pagar um mico maior do que esse ainda esse ano.

Estamos aqui. Cheios de hipoglós até as pálpebras.

Feliz 2011!