segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pesadelão!



AAAAHHHHHHHHHH!!!

Três e quinze da madrugada e acordo assustado com um grito terrível. Ainda tateando, consigo ligar o abajur e vejo minha mulher sentada na cama, toda molhada de suor, pálida e tremendo.

- O que houve, Lindinha? - pergunto preocupado.

- Tive um, um, um... pesadelo horrível. - Ela fala com voz trêmula.

- Que pesadelo foi esse?

- Uma mão... um mamão eeee... um anão.

- Hein?!

- É. É isso mesmo. Era uma mão e um mamão e um anão.

- Calma, foi só um pesadelo. Agora vá dormir.

- Não consigo. Foi muito assustador.

- Tá vendo o que dá encher a barriga de miojo com ovo frito  e cerveja antes de dormir?

- Pôxa! Eu preciso de um abraço.

- Eu te dou um abraço e a gente vai dormir. Não precisa ficar assustada só porque sonhou com duas mãos e um anão.

- Não eram duas mãos. Eram uma mão e um mamão e um anão.

- Ah, não. Um anão e dois mamões?

- NÃO! Ela grita já chateada - UM ANÃO, UMA MÃO E UM MAMÃO!

- Lindinha, eu estou com sono e esse papo cacofônico tá começando a ficar cabeça demais pra mim. Boa noite.

- Não. Espera. Eu preciso contar. Preciso desabafar.

Um tanto contrariado, mas eu me sento na cama pra ouvir o desabafo da minha mulher. Estou cansado, mas fico ali esperando ela contar sobre esse sonho maluco.

- Eu vi um mamão em cima de uma mão de um anão.

- O anão era mamão e tinha um mamão em cima dele? Mas ele era um mamão no sentido de fruta mesmo ou mamão no sentido de ser um pamonha?

- Pamonha, Luciano? Pelo amor de Deus! O anão era um anão mesmo. A mão era uma mão e o mamão era um mamão. Qual a dificuldade nisso?

- A mão era o que, mesmo?

- Luciano, só me ouve, por favor! - Continuei ouvindo ela falar, mas comecei a pensar que agora, com certeza, minha mulher tinha pirado de vez. Eu teria que interná-la. Juliano Moreira, Sanatório São Paulo, fiquei ali matutando pra onde eu a levaria. - Era um ma-mão, entendeu, porra?

- Entendi, entendi. - Louco e cliente a gente nunca contraria. Eles têm razão. Sempre.

- Um mamão, fruta.

- E tem mamão verdura, amor?

- CALA A BOCA! Que coisa. - e continua: - Em cima de uma mão - ela fala apontando pra própria mão.

- Entendi, entendi.

- De um anão. - ela levanta a mão à meia altura me mostrando o tamanho do anão.

- Ahhh, agora eu entendi, amor. Sim e daí?

- Daí que o anão me oferecia o mamão e...

- Ah, não! Espera aí! O anão segurava um mamão com uma mão e a outra mão ele te oferecia? Você está tendo sonhos eróticos aqui do meu lado?

- Ele não me oferecia a mão, idiota, e sim o mamão.

- Porra! Eu acho que estou ficando maluco também.

- Como assim, maluco também? Você acha que estou louca?

- Eu sempre desconfiei, mas agora estou tendo certeza.

- Insensível. Grosso.

- Desculpe. Continue. Mas por que ele não oferecia uma maçã como um dos anões da Branca de Neve?

- Branca de Neve realmente tinha sete anões ao seu lado, mas quem ofereceu a maçã foi a bruxa - ela me corrigiu.

- Ok. Continue seu sonho.

- Eu perguntei pra o anão: Qual é o seu nome? E ele respondeu: É Lon.

- Elon? Um anão chamado Elon. Sei.

- Não é Elon é só Lon.

- Ah, Solon.

- Não, seu burro, é LON, LON.

- Elonlon? Porra, que nome esquisito.

- É SÓ LON, LON, QUE DIABO!

- Tá, desculpe. Eu agora entendi o nome do anão. Solonlon

- Luciano, sinceramente, a sua estupidez e ignorância é o que acaba com a minha beleza. Boa noite. Imbecil insensível.

- Vai dormir, vai. Vai lá sonhar que tá comendo mamão na mão do anão Solonlon, Elonlon, ou eu sei lá que porra. Traidora!

- Idiota!

- Louca!

- Pateta!

- Comedora de mamão!

Fomos dormir de costas um pra o outro.

Fui dormir, mas de manhã fiquei intrigado. Passei a noite toda sonhando com a tal propaganda do cervejão, o anão e o mulherão. Sei não...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Armadilha pra patinho



Nem no meu aniversário eu me livro de confusão.
Ô, vida ingrata, sô!

Era o dia do meu aniversário, mas como a data caiu em uma quinta-feira, resolvi que não comemoraria. Eu ia esperar o final de semana pra fazer um almoço só pra alguns familiares. Recebi meus parabéns, beijos e abraços da minha mulher, ligações de meus irmãos e de meus pais com as felicitações e recomendações de minha mãe.

- Se cuide. Se alimente porque achei você meio magrinho quando teve aqui em casa da última vez. Diz pra sua mulher cuidar melhor de você...

- Tá bom, mãe, tá bom.

- Porque eu não tive filho pra ser cuidado de qualquer jeito e...

- Tá bom, mãe! Tá bom, tá bom.

Mãe é mãe. Fazer o quê?!

Fui trabalhar como em qualquer outro dia até as oito horas da noite quando minha mulher, a Lindinha, me liga e pede pra que eu vá pra casa porque queria ficar um pouco comigo, pois era meu aniversário e ela havia feito uma janta bacana, etc e tal. Como sei que ela cozinha divinamente e provavelmente devia ter feito alguma coisa especial, nem pensei duas vezes, me mandei.

- Amor, - disse ela ainda - quando estiver próximo de chegar ligue pra avisar.

- Avisar pra quê?

- Pra deixar tudo prontinho pra quando você chegar.

Concordei e segui.

Enquanto eu ia pra casa passou por mim um carro todo iluminado, todo colorido, cheio de bolas de aniversário, piscando na frente, no lado, no fundo, neon pra todo canto... Era um daqueles diabos de carros de mensagens.

Existe entre mim e minha mulher um contrato imaginário que jamais deve ser quebrado. Nesse contrato reza que em hipótese alguma ela contratará um carro de mensagens pra mim. Nem em festa de aniversário, nem de casamento, formatura, batizado, chá de bebê, nem se o Bahia for campeão mundial. Só existe uma exceção em caso de morte de sogra. Aí pode chamar carro de mensagens, banda e coreógrafos.

O carro passou e eu ali indo pra casa todo feliz, afinal de contas eu ia ganhar um jantar especial de minha amada.

O carro dobrava uma rua à esquerda e eu também. Ele subia uma ladeira e eu ali, atrás dele, subindo junto. Ele virou à direita e eu seguindo junto com ele. Ficava imaginando quem seria o pobre coitado, ou a pobre coitada que iria sofrer ouvindo aquelas musiquinhas ridículas com mensagens cafonas. Mensagens tão cafonas quanto falar cafona.

Liguei avisando que estava perto de casa.

- Já? Chegou rápido. Então, mô, compra um refrigerante.

Parei pra comprar o refrigerante e ainda vi aquele trio elétrico de baile gay subindo a ladeira.

Entrei pelo portão do condomínio.

- Parabéns, seu Luciano - me falou, entusiamado, o porteiro.

- Obrigado, obrigado. - respondo sem entender como ele descobriu que era o meu aniversário. Mas fiquei sem entender por pouco tempo.

Não é que quando eu chego na porta do meu prédio estava lá o demônio colorido e neonizado - o carro de mensagens? No portão do prédio, em pé, estavam: minha mulher, meu filho, meus cinco gatos - SIM! Cinco gatos - minha cadela cega e doida - SIM! Cinco gatos e uma cadela cega e doida - e uma mulher vestida de, sei lá, acho que era chapeuzinho vermelho.

Meu coração gelou. Senti meu rosto queimando, ardendo. Minha pressão caiu, pensei que ia desmaiar. O meu primeiro pensamento foi o de não descer do carro, fazer a manobra e me picar dalí, mas quando meu carro chegou o camarada que dirigia a viatura colorida maldita, soltou uns rojões e... PÁÁÁÁÁÁ! PÁ, PÁ, PÁ! PÁÁÁÁÁÁ! Chamou a atenção de mais de duas dúzias de crianças que estavam dentro do condomínio. Não demorou mais de um minuto e meio pra eles estarem todos ao redor do carro e de mim que, a essa altura, já estava ali em pé com cara de "socorro, meu Deus".

Só conseguia pensar na quebra de contrato da minha mulher. Como ela pode fazer isso comigo? E o pior é que como o contrato era imaginário, eu não tinha como entrar com ação pra receber meus direitos por rescisão. Na verdade não existia nem claúsula falando sobre multa por rescisão. Na verdade nem existia contrato.

Depois de soltar mais de três mil rojões (filho da puta zoadento), a chapeuzinho vermelho, dançarina de flamenco, sei lá, começou a falar com aquela voz esgarniçada enquanto ao fundo ouvia-se a música "Parabéns da Xuxa".

(Hoje vai ser uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você...)
- Cadê o aniversariante? Vamos chamar ele, gente? Lu-ci-a-no! Lu-ci-a-no! Lu-ci-a-no... Gritava ela e as mais de cinquenta pessoas que agora se amontoavam ali. (...é o seu aniversário...)

Minha mulher (cara de pau, miserável, desgraçada, quebradora de contrato) estava lá com um sorriso de lata de orelha a orelha, dando pulinhos, batendo palmas e gritando meu nome também. E eu retado da vida, mas sorrindo pra disfarçar. Sorriso hipócrita, mas sorrindo. Sorriso amarelo, mas sorrindo. Sorriso sem graça, mas sorrindo.

A chapéuzinho vermelho continuou falando igual atendente de "telemarketing"

- Luciano, - ela fala olhando pra mim - nós vamos estar passando uma mensagem pra festejar o seu aniversário e depois - agora fala olhando pra todos os lados - vamos estar dando a oportunidade de alguns de vocês virem deixar suas mensagens para o aniversariante, ok, gente!?

Já mais tranquilo, fiquei ouvindo a mensagem gravada por um locutor qualquer. A mensagem pelo menos era bonitinha. Mentira, a mensagem era H-O-R-R-Í-V-E-L!!! Mas aguentei firme até o fim.

Mais fogos: PÁÁÁÁÁÁÁ! PÁ, PÁ, PÁ! BUUMMMMM!!! e a chapéuzinho vermelho, a mestre de cerimônias vestida de espanhola, sei lá, chama alguém pra deixar uma mensagem.

Vi quando minha mulher estava andando em direção ao carro pra pegar o microfone, só que, do nada, apareceu uma velha, sei lá de onde, com uma bíblia na mão e bafou o microfone da mão da pobre garota vestida de rubro. Minha mulher quando viu que perdeu a parada veio e ficou do meu lado. (Quase aproveito a oportunidade pra esganar ela ali em público, mas mantive meu sorriso hipócrita e fiquei alí do ladinho dela).

- Quero aproveitar a oportunidade - começou a velha - pra deixar uma mensagem do Senhor pra o aniversariante e pra todos vocês.

Silêncio total. Até a música que estava tocando de fundo foi cortada pra que todos pudessem ouvir melhor a mensagem divina. E ela continuou:

Deus manda dizer que ele vai voltar e muitos vão estar festejando aniversário e fazendo festas naquele dia e vão ser pegos de surpresa, amém, aleluia! E que as almas dos pecadores  que não estiverem na comunhão, vão pra o fogo que não apaga. Lá vai ter dor e ranger de dentes. Digam glória a Deus, irmãos!

Ainda bem que eu não quis nada daquela festa que estava acontecendo ali. Acho que não vou pra o inferno, mas a minha mulher eu não sei.

A velha agora olhando pra mim começa a falar. Falar não, gritar histericamente:

- O SENHOR, A-LE-LU-I-ÁÁÁ, TE DIZ QUE VOCÊ É UM INSTRUMENTO NAS MÃOS DELE. MAS TEM UMA MULHER NA SUA VIDA, ÔÔÔÔÔÔ, GLÓÓÓÓRIAAAA! QUE ESTÁ TE ATRAPALHANDO...

Não sei de que mulher a velha falava, mas olhei pra minha mulher com a minha pior cara de mal e ela olhando pra mim com a cara mais feliz do mundo. Atrapalhar minha vida não, mas meu aniversário ela conseguiu bagunçar todo.

De repente a velha veio em minha direção, botou a mão na minha cabeça e começou a gritar:

- SÁI DELE, ESPÍRITO RUIM. SÁÁÁÁIIII DEMÔNIOOOOO!!!

Eu não dei uma rasteira naquela velha porque aprendi a respeitar os mais velhos. E a velha lá com a mão na minha cabeça e me empurrando pra trás e chamando o demônio no meu ouvido aos berros. Achei até que ele vinha. Era só o que faltava chegar naquele aniversário. E minha mulher do meu lado caindo na gargalhada.

Fiz um sinal pra menina, a garota vestida de chapeuzinho vermelho, tomar o microfone da mão daquela doida. Quando ela encostou, a velha deu a doida de vez e começou a gritar:

SÁI PRA LÁ, POMBA GIRA DOS INFERNOS. CÊ TÁ AMARRADA, DIABA! VAI PRAS PROFUNDEZAS DE ONDE VOCÊ VEIO. TÁ AMARRADO! TÁ AMARRADO!

Meu aniversário que já não estava bom ficou ainda pior e mais constrangedor. Quando olhei pra o lado, Lindinha estava no chão passando mal com o ataque de riso que teve. Três dos meus cinco gatos fugiram. Minha cachorra cega e doida agarrou no vestido da pomba gira, quer dizer, chapeuzinho vermelho e quase deixa a garota nua o que fez a velha gritar ainda mais alto:

- TÁ AMARRADO, ESPÍRITO DE PROSTITUIÇÃO!!!

O maluco do motorista do carro de som de entrar no carro e se mandar dali, ainda ficou soltando fogos. Agora eram coloridos e apitavam.

Corri pra minha casa, me tranquei e só saí de lá três dias depois. Ainda estava envergonhado.

Fiquei sem falar com minha mulher por quatro dias. Não somente pela mico que ela me fez pagar, mas principalmente porque ela mentiu. Não fez jantar nenhum. Era só uma armadilha pra o patinho cair.

Carro de mensagens, por favor, nunca mais.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Rosa Nonatto - Linda e talentosa


Amigos,

hoje ao invés de um texto eu vou postar um vídeo de uma das cantoras de samba mais talentosas dessa Bahia - Rosa Nonatto - que além de talentosa é linda, cheia de rebolado e, por acaso, é a minha querida esposa.


Esse show foi apresentado na Praça Municipal no dia do samba. Foi maravilhoso.


Espero que vocês curtam e gravem este nome:

ROSA NONATTO


Ainda esta semana eu trago um texto cheio de humor pra vocês.


Valeu!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu, cidadão do mundo


Taxistas de Salvador, sempre deixando os turistas com uma boa impressão da nossa cidade.

Se liguem na história.

Sou o primeiro carro do ponto. A central me chama pra passar coordenadas de uma corrida:

- Carro 077, copia a central?

- Positivo, central - respondo.

- 077, adiante para o aeroporto. Quando chegar lá informe para que a central possa passar o restante das coordenadas. - A central mandou, eu adiantei.

Cheguei rápido no aeroporto. A Paralela estava livre. Ótimo.

Tentei chamar a central, mas ela não me copiava:

- 077. A central copia o 077? - não obtive nenhuma resposta.

Procurei um lugar pra estacionar o carro e fui para o portão de desembarque. Chegando no desembarque liguei para a central para anotar as coordenadas.

- Pocotó taxi, bom dia!

- Alô, central, é o 077. Quem é o cliente aqui no aeroporto?

- 077, no portão de desembarque, senhor Washington, a 01:15h. O senhor escreva em uma placa o nome do cliente pra que ele possa te localizar. É no portão de desembar... - Quando a central ia me passar o restante das coordenadas, meus créditos acabaram. Malditos créditos que só acabam na hora errada. O pior é que tinha deixado minha carteira no carro. Fiquei sem crédito, sem poder ligar e sem o restante das informações. Mas eu tinha o básico: sabia o nome do passageiro e a hora que ele ia chegar. Olhei para o relógio e vi que já era 01:25h, ou seja, se não teve nenhum atraso, ele já havia chegado.

Corro num balcão qualquer daqueles que ficam lá no aeroporto, de aluguel de carro, serviço de taxi e outros mais, e peço uma folha de papel e uma caneta. Começo a escrever o nome do camarada. O problema é que agora eu sei como escreve, mas no dia eu não sabia escrever Washington. Nem sabia escrever e nem tinha a ajuda do pai dos burros modernos: Mister Google. Também não ia de jeito nenhum pagar o mico de perguntar a alguém no aeroporto como que se escreve Washington. Homem que é homem nunca deixa transparecer que não sabe uma coisa. Nunca pergunta onde fica uma rua, nunca olha manual de instruções e nunca vai pedir pra que ensinem a ele como se escreve Washington. Sendo assim, comecei a soletrar pra mim mesmo e a escrever na folha de papel:

WÓSCHITOM

Pelo menos eu sabia que começava com "W".

O que é que passa na cabeça dessas mães que colocam esses nomes complicados nos filhos? Ficam traumatizando os coitados. Tive um amigo de infância que todos conheciam ele por Dal. A família chamava ele de Dal. Os amigos chamavam ele de Dal. Todos chamavam ele de Dal. Ninguém sabia o verdadeiro nome de Dal. Ele não falava pra ninguém mesmo. Até que um dia a carteira de identidade de Dal caiu no chão, ele não viu e eu peguei. Lá estava o nome do rapaz:

WANDERCOOCK LUIZ LIMA DOS SANTOS.

Coitado. Ele tinha vergonha do nome e vergonha porque não sabia escrever o próprio nome. Quando eu conheci Dal, ele tinha uns seis anos de idade e até os dezoito fomos muito amigos. Só que ele mudou de cidade e nunca mais eu o vi. Engraçado foi ele ter mudado de cidade, coincidentemente, duas semanas depois de descobrirmos o nome dele. 

Mas, voltando pra o aeroporto...

Fiquei segurando aquele pedaço de papel por pelo menos uns cinquenta minutos e nada de aparecer ninguém. O saguão do aeroporto vazio e nada do tal de Washington chegar. Estava já pra desistir quando olhei e vi sentado num banco próximo ao portão de desembarque internacional, um casal com um garotinho. Pareciam que também estavam procurando alguém. Tentei a última cartada.

- Olá! O senhor é seu Washington? Perguntei meio sem jeito e apontando para o papel onde escrevi o nome do cara, quer dizer, tentei escrever.

- Washington? Oh, yes, yes! - o cara respondeu com entusiasmo, apertando a minha mão e falando inglês. Pelo menos não era um Washington baiano, cearense, sergipano, brasileiro. Era um Washington original dos states. Mas aí é que estava o problema: Um Washington brasileiro falaria a minha a língua, mas um Washington original dos states...

Pra começar, como dizer ao cara que era pra ele esperar enquanto eu ia buscar o carro? Fiz um gesto com a mão, como um guarda de trânsito quando dá ordem pra que os carros parem e comecei a falar alto e separando as sílabas como se o cara fosse um lerdo, um doente mental ou qualquer coisa assim.

- EU VOOOU, VOUUU,  BUS-CARRR O CÁÁÁR-ROOOOO, CÁÁÁR-ROOOO. FIII-QUEEE AAAA-QUIIII, AA-QUIIII!. - acho que o fato de falar e fazer gestos com a mão, fez com que ele entendesse o recado. Também, eu quase rasgo a camisa do rapaz forçando ele se sentar pra esperar.

Voltei com o carro, chamei ele, arrumei as malas do jeito que deu dentro do porta malas e no colo da mulher, do filho e dele mesmo. Eram malas demais. Agora eu tinha que saber pra onde eles iam. Como?!

A Getax (Gerência de Taxi de Salvador) junto com a prefeitura, vez por outra promovem cursos gratuitos de línguas para os taxistas. Mas sabe como é, né?! É aquele curso bem basicão. É bom dia, boa tarde, boa noite, como vai? Qual seu nome? Etc, etc. O trivial. O feijão com arroz, o papai e mamãe. Fiz um curso desses certa feita. E saí da sala de aula realmente acreditando que eu podia. Como diria "meu amigo" Barack: "YES, WE CAN". O problema é que só surgiu a oportunidade de usar, na prática, esse inglês macarrônico agora, nesse episódio, dois anos e meio depois. Dois anos e meio são novecentos e doze dias e novecentos e doze dias são vinte uma mil oitocentas e oitenta e oito horas. É tempo suficiente pras informações não usadas irem pra o arquivo morto e do arquivo morto irem pra o lixo do cérebro. E assim depois que as frases do "BOOK ONE" foram pra o lixo do meu cérebro, é que precisei usar todo o meu conhecimento da língua britânica. Aí, "MEU BROTHER", lascou-se.

Tentei ser simpático puxando uma conversa com o cara:

- "Uóticio neime? - perguntei cheio de confiança. Mas a cara que o rapaz fez foi a mesma cara de quem é pego quando solta uma bufa. Aquela cara de: "HEIN, EU?! Perguntei mais uma vez, agora daquele jeito de quem está falando com um abilolado:

-UÓÓÓTICIÓ, UÓÓTICIÓ, NEIIIMIII? - O camarada olhou pra mulher, pra o filho, fez um gesto qualquer e falou:

- I want to go to a good hotel in Salvador. - Porra, fudeu! Só entendi Hotel Salvador.

UÓÓTI??? O senhor pode repetir? - falei assim em português mesmo, já começando a suar de nervoso, mas logo lembrei que ele era gringo e joguei:

- REPETEIXON, PLIS! - Não sei se ele entendeu, mas sei que ele repetiu. O que não quer dizer que adiantou alguma coisa, porque eu mais uma vez só entendi Hotel Salvador.

E agora, como explicar pra ele que o hotel Salvador tinha fechado? Tentei do meu jeito com o meu "imbromeichon":

- NO, NO! HOTEEEEEEEL SALVADOOOORRR OFI. GUEIIIIMEEEEEE ÔÔVÉÉÉÉÉÉ. ISTÓPIIIII. DÉÉÉÉÉÉÉ ÊNDIIIIII - Vendo que ainda o cara não conseguiu entender, tirei a minha última carta da manga:

- HOTÉÉÉÉLLL SALVADOOOORRR NA CHON, NA CHON!!!

Não adiantou.

Bom, tentei jogar  a responsabilidade pra cima dele. Ao invés de eu falar inglês, vou perguntar se ele fala português. Assim ele que se vire pra falar comigo.

- DU IÚ, DU IÚ, ISPIQUE PORTUGUÊS? - Mais uma vez o cara não entendeu nada do que eu disse. 

O único jeito que achei foi levá-lo até a porta do hotel Salvador pra que ele pudesse ver que o hotel já não funcionava mais. Fiquei caladinho. Só o garoto que de vez em quando falava:

- Dad, i'm hungry.

-Calm down, son. - ele respondia

Cheguei em Ondina e apontei o hotel fechado. Ele com cara de quem não entendia nada e eu suando sem saber o que fazer com aquela família no meu carro.

- Only want to go to a good hotel.

Continuei sem entender. Alí, diante daquele hotel, antes tão imponente e agora fechado, eu na frente daquele cara sem entender patativas do que ele falava, me fazia pensar como foi a galera toda lá diante da torre de Babel. Deve ter sido um tal de "fuck you", filho da puta, sem fim. Arrastei o carro e decidi, por conta própria, que ia levá-los a qualquer hotel por ali mesmo. E foi o que fiz. Ainda ouvi a mulher dizendo:

- We being kidnapped?

Não sei o que ela falou, mas acho que se sentia aliviada por eu estar tirando eles dali e levando pra um lugar seguro em que pudessem descansar.

Parei na porta de um grande hotel aqui de Salvador. Que alegria eu vi estampada no rosto daquela família. A mulher ficou encantada com a vista para o mar que tinha no hotel (pelo menos eu acho que ficou. Era madrugada e não dava pra ver vista nenhuma). O camarada me pagou a corrida me agradecendo e dizendo cordialmente:

- You're crazy, but thanks.

Acho que ele falou que o hotel era incrível. E "tênquis" eu tô ligado que era ele dizendo: Obrigado!

- TÊNQUIU VERI MATI, SENHOR!

Fui pra casa feliz por cumprir o meu dever como cidadão e como taxista que tem obrigação de tratar bem o nosso turista.

Semana que vem estou entrando mais uma vez num curso de inglês gratuito de duas semanas. Agora, com um curso completo de duas semanas, ninguém me segura. Vou ganhar o mundo.

"RASTA LA VISTA, BEIBI!"

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os chiques e seus chiliques


Percebi que vocês gostam de histórias de casal. Foi assim com a história da loira azeda e foi assim com minha história de réveillon. Percebi também que vocês gostam de histórias em que eu me dou mal. Então, mesmo despelando, igual a passarinho quando troca as penas, por causa do sol que tomei no primeiro dia do ano, vou contar mais uma "história de amor". Segura essa.

Fila de taxi de um ex grande shopping de Salvador. Nenhum é igual a ele - todo cheio de puxadinhos. Quase duas horas de espera até que chega minha vez de sair. Um casal entra no carro. Era um casal jovem, por isso achei estranho quando ele se sentou na frente e ela no banco de trás. Geralmente casais jovens se sentam no banco de trás e vão numa pegação danada. Se o taxista deixar tem uns que querem fazer o vuco-vuco no carro mesmo. Fica mais barato porque não precisa pagar taxi e depois o motel. Paga só o taxi e adianta o lado ali mesmo. No meu não que o meu taxi é de família. Enfim, ele se sentou e disse pra onde ia:

- Graça, por favor, amigo.

Ela se sentou no banco de trás, como eu já disse, calada e de cara amarrada. Ela estava pra poucos amigos. Os dois estavam notoriamente brigados.

Vocês já sabem que eu falo mais do que a nega do leite e assim procurei puxar uma conversa. Aquela conversa bem básica, típica de taxista mala.

- Rapaz, tempo mudou de repente, né?

- É, mudou. Mas o senhor pode adiantar um pouco que eu estou com pressa? - O cara respondeu num tom baixo, porém firme. Tomei logo um toco pra deixar de ser besta e conversar menos. Fiquei calado então.

Passados uns cinco minutos de corrida funeralmente silenciosa, a jovem resolveu quebrar o silêncio:

- Pôxa! Você, né, Carlos? Você não tem respeito comigo não? Na minha frente, eu, sua própria mulher, e de flerte com outra... Como pode fazer isso comigo?

- Amor, eu não estava fazendo nada e você não vai brigar aqui na frente dos outros, né? - essa era a prova que eu precisava pra saber que o cara realmente tinha aprontado: Ele respondeu chamando a mulher de AMOR. Estava querendo enrolar a coitada. Esse aprontou com certeza.

Silêncio de novo.

Enquanto o silêncio pairava pelo carro eu pensava com meus botões: Gente fina é diferente mesmo. Olha como é uma briga de um casal chique, morador da Graça, um dos metros quadrados mais caros de Salvador. Ela se exasperou (porque rico se exaspera. Pobre tem chilique mesmo), mas ele conseguiu conter o desespero da mulher chamando-a de amor e falando baixo e educadamente. E assim continuamos o trajeto até a Graça.

Avenida ACM, Juraci Magalhães, Garibaldi... Já estava me preparando pra descer o Vale do Canela e subir o viaduto da Graça quando... O cara tomou a decisão mais errada daquele dia e, quiçá, da vida dele.

- Amigo, por favor, suba aqui a Federação, depois pegue ali pelo Campo Santo sentido Canela e suba a Graça. - Fiz tudo que ele pediu.

Novo silêncio.

Olhei pelo retrovisor e vi que a mulher agora enxugava elegantemente, com um lenço de seda, uma lágrima que teimava cair pelo cantinho do olho. Que diferença faz ter estirpe, ser de família tradicional, bem educada, fina, estudar em boas escolas... Até o enxugar de uma lágrima requer nobreza. Não era como aquelas mulheres moradoras de Periperi, Sussuarana, São Marcos, Caixa D'água, São Caetano, Cosme de Farias, Cabula, Brotas, cachoeiranas, feirenses, etc, etc e tal. Todos esses bairros e interiores com gente que não tem classe pra brigar. Gente que faz um escândalo danado, xinga, fala alto e quando chora puxa a blusa mesmo e assoa o nariz na camisa. Quando pensa que tem um pouco mais de classe, passa a manga da camisa no nariz e fala com a cara toda melecada. Uma nojeira só. Ela não. Chorava como uma diva do cinema. Uma Grace Kelly, Sofia Loren, Maureen Ohara, Bette Davis, Greta Garbo. Que fineza.

Subi a Federação e segui sentido Campo Santo. E foi bem em frente ao cemitério que a tragédia aconteceu.

Do Alto das Pombas saiu a piriguete com sua blusinha tomara que caia rosa fosforescente, seu shortinho jeans C-U-R-T-Í-S-S-I-M-O, um piercing no umbigo, uma tatuagem no cóccix escrito "Xandy, amor eterno", as pernas saradas - a desgraçada não tinha uma celulite e se tinha estrias ninguém sabe, ninguém viu. E tudo isso em cima de um salto ENORME, falando ao celular e com uma bolsa Louis Vuitton provavelmente comprada na mão dos "china" que também vendem tênis de "marca". Do rosto eu não sei dizer nada. Nem eu, nem ele olhamos pra cara da piriguete. Olhar pra cara pra quê?

Meu pescoço quase quebra (tomara que minha mulher não leia isso). Eu e o pobre coitado do rapaz que estava ali já murcho por ter aprontado com a esposa, fomos hipnotizados pelo movimento de vai e vem daquele quadril "pirigueteano". Primeiro foi apenas os olhos que seguiram atenciosamente o rebolado sinuoso. Depois os pescoços, juntos, como se fossemos praticantes de nado sincronizado, viraram para que pudéssemos ver melhor o caminhar daquela diaba que veio atazanar nossas vidas. E foi assim, de pescocinho virado e tudo que, de repente, eu vi a Greta Garbo da Graça se transformar em Dercy Gonçalves soteropolitana.

- FILHO DE UMA PUTA, GALINHA, CACHORRO, SAFADO DE UMA FIGA. VOCÊ NÃO TEM MULHER EM CASA NÃO, SEU MISERÁVEL? MINHA BOCETA NÃO LHE SATISFAZ, NÃO, SEU PORRA? - Gente, a mulher se transformou. Ela deu um tapa tão violento na cara do rapaz que eu acho que o pescoço dele entortou de vez.

Com o susto por causa dos gritos da mulher e do tapa que ela deu no coitadinho (preciso ser solidário com a raça), e por estar olhando ainda a piriguete do satanás, não vi que o carro da frente parou e bati no fundo de uma brasília velha. Desci do carro, a mulher desceu também xingando o camarada que só conseguia dizer:

- Mas, amor! Mas, amor... - Com a marca dos cinco dedos da mulher gravados no rosto.

Nisso já juntou uma roda. Apareceu gente de tudo quanto foi lado. Uns já gritavam que era pra mulher bater mesmo no cara. Do outro lado o dono da brasília veio tirar satisfação comigo me perguntando se eu estava cego. Não tinha como explicar pra ele que estava cego por causa de uma piriguete. Uma confusão total.

O pau rolou. Rolou mesmo. Descobri que a grã fina da Graça era boa de briga. Baixaria só vista em subúrbio, dessa vez sendo protagonizada por uma patricinha.

Quanto ao meu carro, acabei com a frente dele e a brasília velha do cara não teve nada. CARRO VELHO DURO DA PORRA!

Gente, grã fino também tem chilique e quebra o pau como qualquer um de nós. Mas o interessante é que... Eles xingam num português perfeito.

Fui!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ouçam o Pedro Bial





1º dia do ano... Aí é aquilo que todo mundo já sabe: Ressaca, cansaço e praia.


Chego cedo, ainda com cara de bêbado, pra poder aproveitar bastante o sol. Mas a luz do sol incomoda. O barulho incomoda. O vendedor de coco incomoda. O de picolé também. As crianças brincando de bola e correndo e jogando areia em cima de mim, incomodam. O cara vendendo queijo coalho com aquele troço em brasas quase queimando minhas pernas, incomoda. Tudo incomoda. Tento achar o cara que aluga cadeiras, mas não tem mais cadeiras pra alugar. E, se tivesse, a impressão que se tem é que não existe espaço na areia da praia pra colocar uma cadeira - gente por tudo quanto é lugar. Arranjo um cantinho milagrosamente esquecido pelos banhistas, estendo minha toalha e me deito. Bêbado. Tomei todas a madrugada toda. Apago. O sono me toma em fração de minutos. Acho que eram nove horas da manhã.

Segundo os especialistas, nove horas da manhã é a hora limite pra sair da praia com segurança, antes que os raios ultravioletas torrem você como um bife à milanesa. E, ainda assim, mesmo antes das nove, é necessário que você se proteja com bloqueador solar. Eu sei disso, tu sabes, o Pedro Bial sabe. Nós sabemos, vós sabeis, os especialistas sabem, mas dificilmente fazemos as coisas como devem ser feitas. Não ouvi os especialistas e nem o Pedro Bial. Esqueci de passar o protetor.

Me deitei, como disse, bêbado. Sem camisa e com uma sunguinha ridícula, muito parecida com a daquele cara que aparece na propaganda da cerveja com uma pochete do lado e dançando lambada. Peguei a primeira que achei quando cheguei em casa. - Minha mulher e a mania dela de não jogar nada fora. Essa sunga deve ter uns quinze anos. Nem cabia mais em mim, mas eu estava bêbado. Não sei como, mas ela entrou.

Barrigão pra cima. Foi assim que deitei e foi assim que dormi.

Seis horas de sono. Isso mesmo. Dormi das nove até as três horas da tarde. Aaaahhh!!! Acordei revigorado e descansado e renovado e, e, e... E todo estropiado, ardido, gratinado, queimado. Piscava os olhos e ardia o umbigo. O pior foi que na posição que eu deitei, de barrigão de "chops" pra cima, eu acordei. Ou seja, só torrei a parte da frente. Minhas costas, bunda, panturrilha, estavam amarelas como as mãos de quem solta um pum. Eu não conseguia nem mesmo me levantar do lugar, pois para levantar era preciso dobrar a barriga e isso ardiaaaaaaaaa. Pra acabar de completar eu estava com aquela sunga horrível e apertada. Só vim me dar conta daquilo quando o efeito do álcool passou um pouco, porque eu ainda estava um tanto bêbado, mas a sobriedade que vinha aos poucos me fazia entender que eu estava pagando o maior mico do ano e o ano tinha acabado de começar.

Consegui me levantar segurando as lágrimas. Não que eu não quisesse chorar, mas até as lágrimas ardiam meu rosto. Além do ardor do corpo todo queimado, meus testículos doíam. Quem mandou eu sair com uma sunga com numeração quatro vezes menor que o meu tamanho?

Quando já estou de pé, de olhos fechados, mãos levantadas, rendido à brisa do mar que refrescava a minha cara e minha barriga, ouço uma voz inocente e pueril gritando freneticamente:

- CUIDADO AÍ, TIO, COM A BOLA!!!

E assim, de olhos fechados e mãos erguidas, tomo uma puta de uma bolada que acerta a parte baixa da minha barriga e a parte alta das minhas coxas. Caio, quase desmaiado. A dor nos testículos, misturada a dor na barriga, que só quem tem testículos e já tomou uma bolada sabe do que estou falando, misturada a dor do corpo todo queimado, me fizeram esquecer que eu estava rodeado de gente numa praia lotada, jogar tudo pra cima e chorar feito uma criança. Chorei, chorei e chorei. Mas como eu ainda estava um tanto bêbado e estava rodeado de outros bêbados quase ninguém ligou. Só minha mulher que, comovida com a minha tão vexatória situação, me empurrava com as mãos em minhas costas, que era o único lugar do meu corpo que não doía ou ardia, para sairmos dalí e irmos embora. Eu só faltava gritar que queria a minha mãe. Não gritei de vergonha.

Chego no carro sem condição de dirigir. Cheguei na praia não sei nem como. Concluo que minha mulher, que dirige muito bem, diga-se de passagem, foi quem nos levou até ali, logo, ela nos conduzirá de volta pra casa.

Com muita dor ainda consigo me sentar no banco do carona. Só sentei uma banda da bunda porque a sunga apertada, a bolada nas "bolas" e o corpo todo ardido, me deixaram terrivelmente mal sem conseguir encontrar uma posição confortável. Minha querida esposa fecha a porta do carona com todo cuidado e vai pra o outro lado se sentar pra dirigir. Outro problema começa aí. Enquanto eu deitei na areia de barriga pra cima e dormi e tostei, ela deitou de bruços e, chapada como estava, apagou também. Queimou as costas toda e não podia sentar. Que situação deprimente, gente. Eu com a barriga e a cara vermelhas como um camarão e minha amada com a bunda e as costas em brasa.

Só chegamos em casa porque pegamos um taxi. Sim. taxista também paga taxi.

Agora vejam vocês a situação: Eu sentado no banco da frente com a toalha no banco do carro pra não molhar o banco do meu colega. E a sunga entrando na minha bunda e apertando meu saco e minha mulher deitada de bruços no banco traseiro, sem poder se sentar com as costas em carne viva.

Esse foi o primeiro dia do ano pra mim.

Meu consolo é saber que tenho mais 364 dias pela frente e duvido muito que eu consiga pagar um mico maior do que esse ainda esse ano.

Estamos aqui. Cheios de hipoglós até as pálpebras.

Feliz 2011!