segunda-feira, 28 de março de 2011

Meu filho, minha vergonha.


Hoje eu vou falar de um assunto particular com vocês. Espero contar com a ajuda de todos nessa minha luta, nessa dificuldade que estou tendo. É difícil para mim revelar o que vou revelar aqui e agora, mas... é, acima de tudo, necessário.

Meu filho tem me envergonhado diante dos meus vizinhos, familiares e de toda sociedade. Já não sei mais o que fazer pra que ele pare o que vem fazendo comigo. Tem sido difícil demais para mim. Eu, um pai dedicado, protetor, provedor, receber em troca tanta humilhação. Por que, meu Deus?!

Quero contar pra vocês a história do começo pra que vocês entendam e me ajudem. Por favor, fiquem do meu lado nessa batalha.

Junho de 2005, 16 horas e 35 minutos (até hoje lembro data e hora. Vejam o tamanho do meu trauma), hipermercado "Good Preço". Estou com meu filho fazendo compras pra casa, quando VEJO UMA CRIANÇA DANDO BIRRA COM A MÃE. MAIOR GRITARIA. UM INFERNO DENTRO DO SUPERMERCADO. COISA FEIA DE DOER. Nunca consegui entender como existiam pais que deixavam que seus filhos agissem daquela forma. Meu filho nunca fez aquilo, nunca agiu daquela forma deseducada. Não é que ele não desse birra, mas bastava um sonoro: PARE AGORA! Pra ele ficar quietinho, quietinho. Pais que deixam seus filhos fazerem o querem. Deus é mais. Como pode??? Continuei andando com meu carrinho pelos corredores do supermercado. Sabe aquele carrinho de supermercado que tem o formato de um automóvel com volante e tudo pra criança ficar sentadinha em baixo? Eu estava empurrando um daquele e meu filho lá em baixo sentado sem dar trabalho nenhum. Meu filho sempre foi muito bem educado. No corredor seguinte encontrei com a mesma senhora e sua filha, que agora já não estava mais chorando porque a mãe deu o biscoito pelo qual ela chorava e fazia birra.

Pensei comigo mesmo que deveria dar um conselho aquela senhora de não fazer as vontades da menina quando ela estivesse fazendo birra, porque ela alimentaria aquele processo de deseducação.

Quem disse que eu, você, ou qualquer um na face da terra tem o direito de se meter na vida dos outros? Por que na minha cabeça eu acreditei que deveria dar conselhos àquela senhora? Enfim, eu e minha mania de falar pra porra. De não conseguir ficar quieto. De me meter na vida dos outros. Parei, chamei ela e comecei
minha "aula de psicopedagogia":

- Olá, senhora, boa tarde.

- Boa tarde. - ela respondeu meio assustada.

- Eu vi o que sua filha estava fazendo minutos atrás. O Choro, a birra. Vi a cara de desespero da senhora e acho que a senhora não deveria fazer as vontades de sua filha desse jeito. Por qu...

- Quem é o senhor pra se meter na minha vida? Quem é o senhor pra me dizer o que devo ou não devo fazer?

- Calma, senhora. Eu só quero ajudar. Pois eu também tenho um filho, aparentemente, na mesma idade da filha da senhora. E meu filho nunca agiu desse jeito. Quando ele começa com birra eu falo com firmeza e mando ele ficar calado e ele obedece na hora porque eu falo com autoridade. Saio com ele pra todos os lugares e ele sempre ficou quieto. Nunca precisei brigar com ele por ele estar mexendo em algo ou gritando ou qualquer coisa parecida. Então pensei que poderi... - Eu já estava me empolgando no discurso, quando ouço um chororô, um berreiro, uma zoada danada. Então não perdi tempo e disse pra mulher:

 - Tá vendo aí? A senhora foi fazer vontade e agora sua filha já está dando calundú por que certamente quer outra coisa. Tinha que dar era umas palmadas pra ela parar com essa mania de birra.

Enquanto eu falava, olhei e vi que a garotinha estava sentada dentro do carrinho calada já comendo o biscoito dela dentro do supermercado mesmo. Foi quando olhei pra baixo e vi a grande decepção da minha vida: Meu filho, chorando agarrado à minha calça, me pedindo um brinquedo que ele viu.

Fui curto e grosso:

- PARE COM ISSO JÁ! QUE FALTA DE EDUCAÇÃO É ESSA? - Falei sério. Ele parou de chorar na hora.

Parou por dois segundos.

Quando eu olhei, ele estava se jogando no chão, rolando de um lado pra outro e gritando feito um louco:

-EU QUEROOOOOOOOOOOOOO!!! EU QUEROOOOOOOOOOOOOOOOO!!!! AAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

A velha não perdeu tempo também.

- ÔÔÔÔU! É assim que seu filho é o cheio de educação? Ainda vem com impáfia pra falar da minha filha. Macaco não olha pra o rabo mesmo, não é, SENHOR E-DU-CA-ÇÃO?  - Devo dizer que essa última parte da frase o: "senhor e-du-ca-ção", ela falou cara a cara comigo, me cuspindo toda, balançando o pescoço de um lado pra o outro e com as mãos na cintura igual aquelas negras norte americanas nos filmes. Saiu e ainda ficou me olhando torto. E a gurizinha ainda jogou um biscoito recheado que bateu bem na cara do meu filho que, se já estava chorando, agora berrava.

- AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH, AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!! EEEEEEUUUUUUUUU QUÉÉÉÉÉÉÉÉÉROOOOOOOOOOOOOO!!!!

Aí foi que eu vi, que não é tão simples fazer uma criança birrenta parar de chorar. É fácil a solução quando o filho é dos outros, mas quando é com os nossos...

- Filho? Pare de chorar que papai te leva pra o parque outro dia. Certo?

- NÃO QUERO IRRR PRA O PARQUEEEEEEE!!!

Amigos, que sofrimento o meu. O meu e de quem estava ali ouvindo aquele barulho. Não consegui fazer o moleque parar. ele chorou por uns dez minutos eu acho. Rolava no chão de um lado pra o outro, depois ficava parado como se estivesse morto, duro, estrebuchado no chão. Depois batias as pernas. E eu lá com cara de quem não sabia o que fazer. As pessoas olhavam pra mim como se dissessem: "Que pai mais pamonha!" Então tomei uma decisão extrema: Disse que se ele não parasse ia tomar umas chineladas ali mesmo. Mas eu estava de tênis e não de chinelo. Mesmo assim tirei o tênis pra dar umas "tenizadas" no bumbum daquele fedelho, mas quando tirei o tênis, além do fedor de chulé que nem eu estava aguentando, ainda tive que encarar os olhares de reprovação das mesmas pessoas que, se antes me olhavam como se eu fosse um inoperante, agora me olhavam como se eu fosse um carrasco, um déspota. Só parou com o berreiro depois que eu peguei o maldito do boneco e deixei na mão dele. Eu quis dar uma de esperto, pois minha tática era deixar o boneco na mão dele e quando chegasse no caixa eu daria um jeito de tomar e ele esqueceria. Você acha que ele esqueceu? No caixa, quando eu tentei pegar o boneco, a ladainha começou toda de novo. Tive que entregar de volta pra ele pra que a menina do caixa pudesse trabalhar em paz. No caixa ao lado, pra meu azar, estava a mulher que eu quis dar lição de moral quando a filha estava chorando. Eu estava morrendo de vergonha e ela me olhando e fazendo comentários com as pessoas que estavam na fila. As pessoas olhavam pra mim e meu filho e sacudiam a cabeça pra um lado e pra outro desaprovando totalmente aquela situação. E não teve jeito. Levei o boneco pra casa.

Vergonha, vergonha, vergonha.

Aí foi o começo. Quer mais? Vou contar.

Outro dia estava em casa, quando me ligou um amigo chato, daqueles que só ligam na hora errada. Daqueles que só ligam quando você está assistindo um programa imperdível ou o último capítulo da novela. Daqueles que ligam quando você está com preguiça de levantar pra atender o telefone ou quando você está nas preliminares do sexo. daqueles que ligam quando você está querendo almoçar, ou seja, aquela pessoa chataaaaaa. Quando ele ligou eu estava deitado e meu filho foi quem atendeu.

- Alô!

- Alô, Cabeça, seu pai "taí"?

 - Meu pai? "Peraí". PAAAAIIIIII, TELEFONE! - ele já foi gritando. Então fiz um sinal com a mão chamando ele e pedindo que ele fizesse silêncio. Quando ele veio eu disse:

 - Filho, diga que papai saiu. - falei quase sussurrando.

- Saiu? Como, se o senhor está aqui?

- Tá. Então diga que eu estou dormindo. - Ele voltou correndo pra o telefone e...

- "Ói", meu pai mandou dizer que saiu. Ô, "peraí". MEU PAI, É PRA DIZER QUE O SENHOR SAIU OU QUE O SENHOR TÁ DORMINDO? - Ele gritou e nem se preocupou em pelo menos tapar o microfone do aparelho telefônico.

Perdi o amigo pra sempre.

Pelo menos ele nunca mais ligou. Aquele empata fo...

Sim. Não vamos começar com aquele papo do politicamente correto, que eu estou ensinando o menino a mentir.  Vocês já viram que esse é o meu problema. Meu filho desvirtuou. Não consigo fazer com que ele me tire de enrascadas e ele ainda me bota em outras. Eu sou muito doido e meu filho é careta.

Quer mais uma? Então toma.

Aniversário da minha sogra. Acabamos de cantar o parabéns pra você, a "véia" assoprou as velinhas, e aí eu fui abraçar a jarara... er, quer dizer, a abençoada. Quando desejei a ela, com toda a sinceridade, que Deus lhe desse muitos anos de vida, meu filho ouve e solta essa no meio da festa:

- Meu pai, o senhor não disse ontem que seria bom se minha vó morresse logo pra parar de ficar se metendo na vida do senhor e de minha mãe?

O silêncio foi total. Os familiares todos olhavam pra mim. Foi o meu sorriso mais amarelo em todos os meus mais de trinta anos de vida. Ainda bem que meu cunhado é o maior sacana da história e soltou uma piada qualquer lá que eu nem me lembro, mas foi o suficiente pra distrair a galera e eu me sair de fininho doido pra matar meu QUERIDO filho.

Nem meus telefonemas minha sogra atende mais. Ela está sempre dormindo ou saindo. (Eu já conheço essa tática. Ela não quer falar comigo)

Pensa que acabou?
"Cabô" não, miserinhas. Ainda tem mais.

Véspera da semana de São João do ano passado. Reunião de moradores com o síndico do prédio onde moro. Maior bafafá por causa de barulhos dos vizinhos. Era um reclamando do arrastar de móveis no apartamento da vizinha de cima, o salto da vizinha do lado, o cachorro. Então lá fui eu me meter nos problemas alheios. Comecei:

- Acho um absurdo mesmo esse negócio de ficar fazendo barulho pra incomodar os vizinhos. Eu mesmo, todos vocês sabem, fico aqui com minha mulher e meu filho, e ninguém ouve um piu que saia ali do nosso apartamento (menti um pouco, é verdade, pois eu mesmo faço um barulho danado com minha bateria). Nem bem terminei de falar, ouviu-se uma explosão dentro do elevador. Desespero geral. O que foi que aconteceu? Meu Deus, será que o elevador despencou? Quando o elevador abre, sai primeiro aquele fumaceiro, depois sairam meus cinco gatos (Elvis, Elis, Raul, Pit e Belinha) cada um correndo pra um lado, minha cadela cega, Bel e meu filho sai por último tossindo no meio do maior fumaceiro (tipo Bob Marley)

- O que foi que aconteceu, Cabeça? - pergunto assustado.

- Eu comprei umas bombas na porta da escola e ia descer pra brincar. Só que a luz do elevador apagou e eu acendi uma bomba pra clarear. Soltei no chão e ela explodiu.

Bomba comprada na porta da escola? MEU DEUS!!!
Acender bomba pra clarear elevador? Ô, JUMENTO!
Brincar com bomba? Meu filho é seguidor de Bin Laden?

Vergonha. Os vizinhos, atônitos, quase me expulsam do prédio. Disseram que eu deveria dar educação ao meu filho, que aquilo era inadmissível, etc, etc, etc.

Bom amigos, preciso ou não preciso de ajuda? Sou ou não sou um sofredor?

Esse é o meu drama. Meu filho me envergonha o tempo todo. Não me deixa mentir, nem trapacear no jogo de cartas ou dominó, nem inventar história pra enganar os outros, nem falar mal de minha sogra, nem contar vantagem, nem tirar onda de gostosão, nem paquerar quando a mãe dele não está perto, nem beber água no gargalo da garrafa na geladeira, nem cuspir na cabeça de quem passa lá embaixo da janela do prédio, nem passar com o carro numa poça pra molhar as pessoas na rua, enfim... meu filho não me deixa fazer aquilo que qualquer pai gosta de fazer.

Me ajudem! Me ajudem!

segunda-feira, 21 de março de 2011

PULA, CAI NO CHÃO! Carnaval 2011


Pronto. Carnaval acabou e a cidade já voltou a sua normalidade. Congestionamentos, trabalho, chefe, volta as aulas, fila dupla, tripla, quádrupla, na porta das escolas, enfim, aquelas coisas normais de nossa querida cidade e de nossa própria vida.

O carnaval acabou, mas as histórias do carnaval ficaram.

Então, levantem a mãozinha pra o ar e... Segurem!

Todo carnaval é aquela mesma coisa que todos sabem: Pula, sai do chão, levanta a mãozinha, bata na palma, vamos tremer a avenida, etc, etc, etc. Mas o mais gostoso do carnaval de Salvador é a "pegação". E a pegação é geral. Ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. "Eu quero mais é beijar na boca" já diz a letra da canção.  E é assim nesse espírito carnavalesco de azaração total que muitos se dão mal. (até rimei). Vejam por exemplo a história de minha amiga, Nélia. Ela, assim como eu, sempre se mete em furadas. Não é à toa que somos amigos. Vocês lembram da história do caranguejo? Ela, era quem estava comigo parecendo um cachorro rosnando com uma perna cabeluda de caranguejo na boca, lembram? Vejam agora como ela tem realmente o dom de se meter em barcas furadas.

Sábado de carnaval, Barra - Ondina. Galera bonita, sol, calor, cerveja, axé, mulheres maravilhosas, homens fortes, altos, bonitos, sarados, e foi assim que Nélia se deu mal.

Um ano inteiro pagando um abadá. Quase mil reais pra sair em um bloco de elite. Nélia é pobre, mas é metida. E metida demais. Quase passa fome, mas comprou o abadá só pra realizar o sonho de sair no bloco com o símbolo da patinha verde e que tem um ex cantor barbudo que agora ficou com cara de cágado. E a ousada da Nélia comprou. No dia de buscar o abadá me ligou na maior alegria me pedindo pra ir com ela, pois é muito perigoso sair por aí com um abadá na mão. Ainda mais um tão caro e tão visado. Reformou, reformou não. Customizou (reformou é coisa de quem ainda usa mortalha), ela mesma, o abadá em casa. A camiseta virou um topzinho. E Nélia, vestida no abadá, ficou até gostosa. Ela estava se achando. Andou aqui na rua pra cima e pra baixo só pra todo mundo ver que ela estava com o abadá do "gambá-leão". Se achou única. Até chegar na concentração do bloco e ver que tinha umas duas mil e quinhentas mulheres iguaizinhas a ela. Pensou: "Tem problema não eu ainda sou única no bloco". E era mesmo. Acho que ela era a única negra, baiana e da periferia dentro das cordas do bloco. Chamou atenção assim que chegou. No meio de tantas loiras de chapinha, luzes e o escambau no cabelo ela se sobressaiu com seu cabelo afro cheio de tranças. Pulou, gritou, quase entrou em transe de tanta emoção quando o "tartaruga ninja" cantou "Tá lisinho, tá lisinho". Lisinho ficou foi o bolso de minha amiga. COITADA!

Mas o bom de ser um pobre ousado é que você pode se dar bem. E Nélia, como boa pobre ousada, começou se dando muito bem nessa história. Pode até não parecer, mas começou se dando bem.

No meio do bloco haviam vários caras lindos, sarados, bombados, loiros, morenos, ruivos (até ruivos eram bonitos nesse bloco). Cada peitoral de deus grego que só vendo (vou até parar por aqui pra que ninguém duvide da minha masculinidade). E Nélia lá no meio se achando. Todo mundo beijando todo mundo, mas ninguém chegava na coitada da Nélia. Ela chegou a fazer biquinho na frente de um cara que quando viu que a garota destoava do restante do bloco achou que ela estava recebendo um santo em plena avenida. O cara gritou um "saravá, meu pai!" e se embrenhou no meio da galera. E Nélia ali quase dando cãibra nos beiços. Já estava quase desistindo de achar um gatinho quando a sorte SORRIU pra minha amiga. E o SORRISO da sorte era branco e perfeito.

Gente, nem minha amiga acreditava que aquele cara loiro, lindo, forte, cabelos de príncipe, nariz afilado e SORRISO perfeito (o cara era o próprio He-man), estava olhando pra ela daquele jeito tão sensual. Ela se beliscou duas vezes. Uma pra ver se estava acordada outra pra ver se não estava bêbada. Ela estava acordada e ainda não estava tão bêbada. O cara estava realmente olhando pra ela. E agora estava se aproximando olhando nos olhos dela. Por um momento ela não ouvia mais o som do trio elétrico, ainda que os decibéis estivessem quase duas vezes acima do que o ouvido humano pudesse suportar. Ela ouvia só o tum, tum, tum dos tambores do coração. (Pô! Fui profundo agora. Me arrepiei). Ainda que estivesse o maior empurra, empurra dentro das cordas do bloco, ela só enxergava aquele ser mágico e maravilhoso vindo em sua direção.

O cara nem disse oi. Também se dissesse não daria pra ouvir. Também ela não queria saber de papo ela queria era "pegada" e o cara tinha "pegada". Chegou chegando. Segurou ela pela cintura, puxou contra seu corpo másculo, seu membro ereto e pulsante,  seus músculos apertavam-na com a força viril de um macho no cio, (está parecendo aqueles romances porno/erótico que as mulheres adoravam ler no passado) sua mão grande passeava pelo corpo dela até parar sobre suas nádegas que, na onda das mulheres frutas que existem por aí, parecem duas bandas de jaca. Podres. E o garanhão encostou seus lábios nos lábios ávidos de minha amiga Nélia. E o beijo foi ardente, voluptuoso, de tirar o fôlego, cinematográfico. Quase cinco minutos se beijando sem parar. Quando o beijo acabou as pessoas ao redor aplaudiam. As câmeras de tv filmavam pra todo o Brasil ver aquela cena tão quente, tórrida, a verdadeira demonstração do calor do verão baiano. Até o cantor cara de cágado fez uma menção lá de cima do trio. PERFEITO. A única coisa mais perfeita do que toda aquela cena, era o SORRISO daquele cara.

O ruim de ser um pobre ousado é que pobre é sempre azarado (senão não seria pobre, né?) então quando tudo parece perfeito sempre acontece alguma coisa pra desandar o negócio.  E, quando tudo está desandado, sempre pode piorar.

Após o beijo o camarada a convidou para irem juntos para o carro de apoio. Ele queria ficar mais a vontade com ela e conversar um pouco. O cara era sempre solícito e SORRIDENTE. E o SORRISO dele era tudo de bom (segundo Nélia). Quando chegaram no carro ele fez questão que ela subisse primeiro. Um lord. No meio daquela confusão toda um príncipe encantado estava ali pronto pra ser o gentlemam perfeito pra minha amiga. Ela subiu e virou na escada pra ver aquela obra divina em forma de folião subir no carro de apoio. Ô, desgraça, meu Deus! O cara errou o pé no degrau do carro de apoio, saiu raspando a canela na escada. Sabe quando você toma aquele arranhão que primeiro a pele fica branca, depois é que o sangue começa a aparecer em forma de pontinhos? O cara que já era branco então... A raspada de canela foi o mínimo, o cara caiu de joelhos, meteu a caixa dos peitos na quina da escada e isso ainda não foi o pior. O pior foi que com a porrada na caixa dos peitos o cara cuspiu a uns dois metros de distância o SORRISO PERFEITO que tanto encantou minha amiga. Sim o loiro e lindo e forte, bombado, cabelos "numseioquê", tinha uma dentadura na boca que ele cuspiu com o impcato da queda. A perereca caiu no meio da galera, no chão, no chão da avenida, chão cheio de cerveja, umas poças de lama, misturado com aquele perfume que a rapaziada da limpurb passa assim que acaba o dia de festa. E gente pisava, chutava e o cara levantou meio grogue correndo atrás da perereca que pulava pra um lado e pra outro no ritmo da levada. Era chutada pra lá e pra cá, e ele de quatro no meio do bloco, sem ar por causa da porrada que levou nos peitos, a canela ardendo pra porra, e sem um dente na boca.

Ele achou a dentadura. Tudo bem, faltavam uns três dentes, mas ele achou. Pior: ele só deu uma lavadinha com cerveja mesmo, Enxugou no abadá e meteu na boca. Encheu a boca com mais três goles de cerveja, gargarejou, buchechou, cuspiu, e SORRIU. Nélia, a essa altura, já estava quase colocando os bofes pra fora de tanto vomitar. Cada vez que ela lembrava do beijo que o cara deu, a língua dele passeando por dentro de sua boca, a ânsia de vômito voltava. O camarada era duro na queda, ele ainda voltou querendo ficar com ela. Disse que nunca beijou alguém que tivesse um beijo tão gostoso como o dela. Falou em casamento e tudo mais. E como o som era muito alto, pra ser ouvido era necessário falar de pertinho. Imaginem o bafo do cara... Uma mistura de cerveja com chulé com lama com alfazema dos filhos de Gandhi com detergente da limpurb com odor de banheiro químico e baba. Ele falava e minha amiga vomitava.

Coitada da Nélia. Um ano sonhando esse sonho pra virar um pesadelo desse jeito. Ela me confessou que agora só sai de pipoca. Se sair. Mas eu conheço a Nélia, ela é ousada. Ano que vem ela sai de camarote. Quer apostar?